Muito se fala, se escreve e se filma sobre a violência contra a mulher, mas poucos trabalham lidam com o aborto de uma adolescente menor de idade como o filme argentino ‘Invisível’. Dirigido por Pablo Giorgelli, apresenta a questão sem música incidental de fundo e com longos silêncios.
Certamente a escolha traz em si muitas conotações. A principal está em não dar a essa situação glamour ou drama. As aulas do ensino médio sem sentido algum para a vida prática, o sexo sem amor no banco traseiro do carro e as tediosas jornadas de ônibus de casa para o trabalho, além das pesquisas na internet para resolver todos os problemas, ilustram um profundo vazio.
A protagonista não pode contar com ninguém. E a solidão na vida real é assim mesmo: silenciosa e amedrontadora, mas precisa ser enfrentada. Em um cenário existencial em que a mãe da adolescente grávida sofre de depressão e o pai da criança se propõe a pagar a clínica para fazer o aborto com extrema frieza e racionalismo, sem emoção alguma, a atmosfera do país, endividado e empobrecido, contribui para uma jornada vivencial que que a vida não oferece novas possibilidades.
As decisões simplesmente precisam ser tomadas sem heroísmo, mas com senso prático, pois a vida atropela os que param ??? e a imagem de um cão que sofre um acidente é emblemática no sentido de apontar que é possível um recomeço, mas tendo ciência que ele leva a uma situação diferente da anterior. Não há tempo para chorar, mas apenas para seguir em frente da melhor maneira possível ??? e geralmente a trilha não é fácil…
Oscar D’Ambrosio é jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, graduado em Letras (Português e Inglês) e doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.