Conhecida por ser uma opção de tratamento para obesidade, a cirurgia bariátrica é um procedimento que reúne um conjunto de técnicas de diminuição do estômago destinada a redução de peso. A opção pela intervenção é proposta, geralmente, quando atividades físicas e reeducação alimentar não causam mais efeito. Porém, há muitos mitos em torno da efetividade e da recomendação da cirurgia.

 

Dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2019 apresentam informações alarmantes acerca da obesidade no Brasil. Segundo a análise, mais da metade da população tem sobrepeso e uma em cada quatro pessoas tem obesidade. O cenário, além de preocupante, reacende a discussão sobre a efetividades das campanhas de prevenção, assim como a forma como os tratamentos são conduzidos.

 

Segundo o médico referência em tratamento da obesidade Dr. Lucas Costa Felicíssimo, há uma falsa ideia sobre a obesidade ter relação com uma escolha de vida, sendo as pessoas que a possuem irresponsáveis com a própria saúde. “A obesidade é uma doença que tem uma forte base genética, influenciada pelo ambiente. Cerca de 90% desses genes estão no cérebro, interferindo em sensações de fome e saciedade. A grande diferença é que há alguns anos, apesar da presença desses genes, o ambiente não era favorável ao comer desenfreado. Atualmente, esse cenário muda e a grande presença de alimentos processados aumenta a influência desses genes no organismo, já que há a possibilidade de comer mais”, explica.

 

O senso comum de que comer bem e fazer exercícios — o que não deixa de ser uma estratégia clínica para o tratamento — evita a obesidade culmina, portanto, não apenas nos estigmas como também na criação de tabus sobre as opções de tratamento, entre elas a cirurgia bariátrica. Conforme explica o Dr. Lucas Costa Felicíssimo essa cirurgia é uma opção para quando há necessidade de perder grandes quantidades de peso, assim como para mantê-lo no pós-operatório.

 

“Há muito no imaginário popular aquela ideia da bariátrica ser o último recurso, o que particularmente soa como um ato de desespero, algo como ‘já tentei de tudo, agora a bariátrica é minha última chance’, além de criar a ideia de que após fazer o procedimento, caso aconteça de engordar um pouco novamente, não há mais alternativas viáveis de tratamento”, aponta o médico.

 

Achismo como esse tornam mais difícil até mesmo a abertura do médico em propor a alternativa para o paciente, aponta o Dr. Lucas Costa Felicíssimo. “Muitos chegam com aquela de ‘opera a barriga, mas não opera a cabeça’, no que diz respeito à eficácia da intervenção cirúrgica, quando na verdade é comprovado que há uma alteração nos hormônios intestinais que mudam nosso apetite. Caso fosse uma questão apenas de uma cirurgia mecânica restritiva, a estratégia além de mutiladora seria uma perda na qualidade de vida, já que a pessoa continuaria a querer comer muito, só não conseguiria”, elucida.

 

A indicação da cirurgia é de massa corporal acima de 40 Kg/m² ou acima de 35 Kg/m² com doenças relacionadas a obesidade. “Ter a indicação não significa a obrigatoriedade em fazer e sim que se torna opção a se considerar. Além disso, muito se fala em dois anos de falha em tratamento clínico para começar a se cogitar a intervenção, o que leva muitos médicos a entenderem errado a indicação. O tratamento contra obesidade é crônico e deve permanecer mesmo quando a pessoa já atingiu o objetivo, pois o corpo tende a querer retornar ao peso. No caso da bariátrica, há maior eficácia na manutenção desse peso”, aponta o médico referência em tratamento da obesidade.