Nós adotamos o Dick em setembro de 2020, com poucos meses de vida. Percebemos que ele era diferente do nosso gato mais velho, era mais distraído, mais lento e não respondia quando chamávamos. Em uma consulta veterinária comentamos sobre isso e soubemos que uma porcentagem alta de gatos brancos de olhos azuis era deficiente auditiva. Ela fez alguns testes com brinquedos, chocalhos e confirmou: ele realmente era surdo. Não esboçava reação nenhuma aos ruídos. Fomos orientados a não deixar que ele saísse de casa devido ao risco que a surdez representava para um gato nas ruas.
Nossa casa possui muros altos, garagem coberta, impossibilitando que os gatos tenham acesso às ruas, então era relativamente fácil impedir que ele fugisse.
No dia 01 de junho cheguei em casa pela manhã, depois de trabalhar a noite e fui recepcionada pelos dois gatos. Estava um dia frio, tomei um banho e fui dormir. Quando acordei por volta das 12h, fui procurar os gatos e só encontrei o gato mais velho (Bruce). Iniciei uma busca frenética por Dick pela casa, porque gatos gostam de se esconder dentro de guarda-roupas e gavetas, mas sem sucesso. Procuramos pela rua, alertamos os vizinhos e nada. Resolvi publicar sobre o desaparecimento dele nas redes sociais, em grupos de
animais desaparecidos e pedi o apoio do Novo Momento para compartilhar a notícia.
Começamos a nos questionar: por onde ele saiu? Não tinha como ele ter pulado o muro, nem passado pelo portão. Uma das respostas que encontramos foi ele ter saído no carro, talvez no motor, naquela mesma manhã quando minha mãe havia ido trabalhar. Então, refizemos o caminho para o trabalho dela, pensando onde ele poderia ter se escondido.
Encontramos a Praça José Porteiro, próxima a Rua Carioba, onde vivem cerca de quinze gatos. Conversamos com um senhor muito gentil chamado Max, que levava ração e água para os gatos dali e contamos do desaparecimento de Dick. Fomos diversas vezes nessa praça na esperança de encontrarmos nosso gato. Chegamos até a achar um gato muito parecido com ele, mas que ouvia, descartando a possibilidade de ser o Dick.
Foi no último sábado (10) que recebemos mensagem de uma senhora que dizia ter visto um gato muito parecido com o Dick nas margens da Avenida Bandeirantes. Essa senhora, chamada Márcia, comentou sobre como esse gato era manso e distraído. Ela trabalha ali perto e estava cuidando dele havia alguns dias, levando comida e água para ele, e o mesmo retribuía carinhosamente.
No mesmo dia fomos ao local para ver esse gato, e era ele. Era o nosso Dick. Márcia estava lá, muito simpática e prestativa. Preocupada com a alimentação dele mais uma vez havia levado ração. Não conseguimos pegar Dick nesse dia, pois queríamos fazer o resgate da maneira menos estressante possível para ele, considerando que já estava mais de quarenta dias longe de nós e muito assustado.
Fomos levando a ração que ele estava acostumado e sachês cerca de três vezes por dia e tentando aproximação. Na terça-feira (13) conseguimos o trazer para casa. Ele chegou a ronronar de alegria no caminho da volta, sem tentar dar arranhões ou mordidas. Reconheceu o Bruce logo que chegou, e em poucas horas já estavam correndo e brincando.
Na manhã seguinte já o levamos em uma consulta veterinária, ele tinha alguns ferimentos nas patas, no focinho e nas orelhas. Com sorte, nada grave.
Por fim, gostaríamos de agradecer o apoio de todos, especialmente ao Max e a Márcia, não sabemos se teria sido possível sem vocês. Gratidão também ao jornal Novo Momento, por ter publicado o desaparecimento e acompanhado de perto nossa jornada.
Acreditamos que Dick só queria se esquentar no motor de nosso carro durante uma manhã fria, mas infelizmente acabou resultando em mais de quarenta dias fora.
Que nossa história sirva de alerta: verifiquem sempre o motor dos carros antes de saírem de casa!
Por Jéssica Lousano Dionísia