Dados do DATASUS, banco de dados do Sistema Único de Saúde (SUS), mostra que em 2021 9,2 milhões ou só 5% dos brasileiros que são atendidos exclusivamente pelo serviço público de saúde foram ao oftalmologista. Pior que representam 80% da população. Em 2020 o número de consultas foi ainda menor. Totalizou 7,2 milhões, uma redução de 34% em relação aos 10,8 milhões atendimentos realizados em 2020.

 

Para o oftalmologista Leôncio Queiroz Neto, presidente do hospital, este cenário é bastante preocupante. Primeiro, porque a OMS (Organização Mundial da Saúde) estima que a maior causa de deficiência visual no mundo é a falta de óculos

 

No Brasil, afirma, não existe uma política pública de saúde ocular para crianças. Os erros de refração – miopia, hipermetropia e astigmatismo respondem por 75% dos problemas de visão entre elas, mas é a miopia que mais cresce, igual ao restante do mundo, alavancada pelo maior uso das telas digitais. O oftalmologista afirma que no consultório tem sido cada vez mais frequente receber crianças já em risco de desenvolver alta miopia que nem desconfiam estar enxergando mal de longe porque passam a maior parte do tempo olhando para uma tela de computador ou celular. “Até a idade de 8 anos os olhos estão em desenvolvimento e ganham maior plasticidade de acomodação quando são expostos às atividades ao ar livre em que são exercitados para focalizar nas várias distâncias. Isso explica o resultado de uma pesquisa publicada na The Lancet que aponta o aumento de 40% na miopia infantil durante a pandemia.

 

Óculos de fábrica são prejudicais

O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) estima que hoje 40% da população ou 86,9 milhões de brasileiros têm 40 anos ou mais. Queiroz Neto ressalta que nossos olhos mudam conforme envelhecemos e a mais expressiva alteração a partir dos 40 anos é a presbiopia ou vista cansada que diminui a visão de perto. Isso acontece, explica, porque o cristalino do olho perde a flexibilidade que permite a troca automática de foco. “Os óculos de fábrica não substituem os confeccionados nas óticas e só podem ser usados temporariamente”, afirma. Isso porque, explica, a graduação nas duas lentes é igual e todos nós temos um olho dominante que enxerga melhor. Além disso, para permitir a boa visão o centro óptico das lentes corretivas deve coincidir com a distância entre as pupilas, o que não é possível encontrar em prateleiras. “Muitas dessas lentes genéricas também podem induzir ao astigmatismo porque têm irregularidades que provocam distorção nas imagens, dor de cabeça, náusea e tontura. Para uma emergência, quando você esquece ou perde os óculos numa viagem é aceitável. Além disso não”, pontua.

 

Queiroz Neto afirma que algumas alterações nos olhos podem passar despercebidas por não terem sintomas. Este é o caso do glaucoma, doença que degenera o nervo óptico e em 90% dos casos é causada pelo aumento da pressão intraocular decorrente da dificuldade de escoamento do humor aquoso, liquido que preenche o globo ocular. Outras como a degeneração macular que causa perda irreparável da visão pode esta relacionadas a alterações metabólica como o diabetes, hipertensão, aumento do colesterol que nem sempre recebem acompanhamento.

 

Catarata

O levantamento no DATASUS também indica uma retomada da cirurgia de catarata que lidera os procedimentos cirúrgicos na visão realizados pelo SUS. Maior causa de cegueira tratável no mundo, responde por 49% das perdas de visão no Brasil. A principal causa da catarata é o envelhecimento que vai tornando o cristalino, lente interna do olho, opaco. O único tratamento é a cirurgia que consiste em implantar uma lente dentro do olho que substitui o cristalino. Dados do DATASUS mostram que em 2020 o foram realizadas 358 mil cirurgias, 37% abaixo das 575 mil em 2019. A boa notícia é que em 2021 586 mil brasileiros foram operados de catarata ante 358 mil cirurgias em 2020. Apesar da recuperação, para Queiroz Neto este montante ainda é pouco. Isso porque, a cada ano surgem mais de 120 mil casos no Brasil e algumas doenças dobram o risco de desenvolver catarata, como por exemplo, o diabetes que já atinge 10% dos brasileiros segundo o Ministério da Saúde.

 

Prevenção

A OMS estima que 80% dos casos de cegueira são evitáveis. As dicas do oftalmologista para você se prevenir da deficiência visual são:

  1. Consulte um oftalmologista anualmente. Se não tem plano de saúde faça uma pequena reserva mensal.
  2. Consuma ovos, folhas verde escuro, frutos alaranjados, sardinha e abacate.
  3. Pratique exercícios físicos. Melhoram toda a saúde, inclusive a ocular.
  4. No computador pisque voluntariamente e descanse os olhos focando pontos distantes
  5. Mantenha o corpo bem hidratado bebendo mais água.
  6. Proteja-se da radiação ultravioleta usando lentes com filtro ultravioleta inclusive no inverno
  7. Higienize as pálpebras com xampu neutro para evitar inflamação e olho seco.
  8. Não use colírio sem prescrição médica.
  9. Durma de 6 a 8 horas/dia.