(Folha de S. Paulo) – O vice-chanceler da Rússia, Sergei Rybakov, defendeu nesta terça-feira o acordo que permitirá o envio de mísseis de longo alcance ao regime sírio como uma forma de evitar uma intervenção estrangeira no conflito entre o regime de Bashar al-Assad e a oposição.
Ele também criticou o fim do embargo da União Europeia ao envio de armas ao país árabe, o que considera prejudicial às negociações de paz para dar fim aos confrontos. Moscou é a principal aliada de Damasco e vetou uma série de resoluções prejudiciais ao regime sírio na ONU.
Rybakov não comentou quando o país pretende enviar o armamento aos sírios, mas defendeu o uso dos mísseis, que são similares aos americanos Patriot, que estão instalados na fronteira entre a Síria e a Turquia desde dezembro.O vice-chanceler afirmou também que não pretende abandonar o acordo com os sírios por causa das críticas de países ocidentais e de Israel.
Assim como os mísseis Patriot, o sistema S-300 é capaz de fazer ataques a longas distâncias e criar defesa para o regime sírio mesmo em caso de embargo marítimo ou da criação de uma zona de exclusão aérea. O fornecimento do armamento foi ratificado em acordo em 2007, quatro anos antes do início da crise síria.
As declarações são uma resposta ao secretário de Estado americano, John Kerry, que afirmou na segunda (27) que os mísseis seriam um fator desestabilizador na crise síria. Após a declaração de Rybakov, o governo de Israel disse que pode reagir caso as armas sejam entregues.
No início do mês, integrantes do Exército de Israel afirmaram que Moscou tinha a intenção de enviar os mísseis e que, se isso acontecesse, poderia atacar. No entanto, a principal preocupação do Estado judaico é que o armamento caia nas mãos do grupo radical libanês Hizbullah, aliado de Damasco.
EMBARGO
Questionado sobre o fim do embargo da União Europeia ao envio de armas aos rebeldes, determinado na segunda (27), o vice-chanceler russo disse que a medida prejudica as negociações de paz e a conferência internacional organizada pelo país e os Estados Unidos.
“Isso é um reflexo dos dois pesos e duas medidas usados pelos países europeus e um dano direto às negociações de paz”, afirmou.
Nesta terça, o ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov, se reúne com o secretário de Estado americano, John Kerry, para definir os últimos detalhes da conferência, que deve acontecer em meados de junho.
O vice-chanceler, no entanto, disse que ainda há muitas diferenças entre as posições americana e russa, que poderiam atrasar a realização do evento. “Não podemos fazer este encontro enquanto seus membros tentam impor aos sírios decisões de fora, incluindo o resultado do processo de transição”.
Moscou insiste que os opositores sírios devam levar uma delegação representativa, capaz de tomar decisões por toda a oposição, o que, até o momento, não é possível devido às divisões internas na principal coalizão rebelde.
O país ainda defende a presença de Arábia Saudita, Egito e Irã, que não estavam no primeiro evento sobre a transição síria, realizado em Genebra, em junho do ano passado. A presença de Teerã é rejeitada por Reino Unido e França que, junto com os Estados Unidos, defendem os opositores.