Home office: é ou não é mais produtivo? Esse assunto é polêmico, por isso é interessante o abordarmos aqui. Enfim, quais as vantagens do home office? Veio para ficar? Tem algum setor em que funciona melhor? Para responder a tais perguntas, é preciso muito discernimento e claro, fatos e dados. Entretanto, é difícil encontrar algum trabalho que vá direto ao ponto, cuja extrapolação para além de suas fronteiras seja possível.
Quando leio reportagens sobre o tema, os argumentos são sempre fundamentados na famosa prova social – isto é, a entrevista de alguém opinando sobre a sua experiência com o teletrabalho. Hoje, costumam começar assim os depoimentos: “eu posso morar em qualquer lugar do mundo e fazer o meu horário, além de receber em moeda estrangeira”. Outros, reclamam que o home office torna o trabalho contínuo, das 6 às 22 horas. Para alguns, resume-se à flexibilidade. Para outros, evita-se o deslocamento desnecessário – e paro por aqui, pois poderia levantar milhares de depoimentos conflitantes.
Prefiro, ao contrário, buscar a convergência das opiniões. Para mim, não há resposta universal ao tema. Li recentemente que apenas 12,5% dos gestores acham que o regime é mais produtivo. Já para os membros do time, a mesma pesquisa apontou que 87,5%. O número de vagas em portais de recrutamento que oferecem teletrabalho não passa de 10%, ou seja, ainda não é uma preferência das empresas ou dos gestores.
E uma assimetria dessa ordem cria um ambiente fecundo para comportamentos inadequados. É fácil encontrarmos histórias do gestor que obriga todos a abrirem suas câmeras e darem bom dia, apenas para garantir que todos estão trabalhando. Também não é difícil encontrar quem muda o status para ausente e dá aquela rápida saidinha de algumas horas. Enfim, sem confiança não se estabelece um ambiente saudável.
Como estão os números do home office?
Segundo dados de um estudo do IBGE, fundamentado na PNAD contínua, em setembro de 2022 havia 6,5 milhões de trabalhadores no regime remoto, ou 6,7% do total, número estável desde abril de 2022. Sob essa perspectiva, o teletrabalho é uma realidade para poucos.
Outro estudo, da FGV Ibre, mostrou que o percentual máximo de trabalhadores em home office possível é de 20%, ou seja, apenas 33,5% do potencial está sendo aproveitado. Por isso, pode-se afirmar que a solução não é unanimidade.
Nesse mesmo levantamento, evidenciou-se o caráter desigual de utilização da modalidade, já que o número sobe de 20% para 52,9% quando se limita o universo aos trabalhadores com ensino superior completo. Para trabalhadores sem instrução e com fundamental incompleto, o número é de 1,5% e de 4,6% para quem tem fundamental completo e ensino médio incompleto.
Segundo o IPEA, 58,3% dos trabalhadores em home office são mulheres, 60% são brancos, 62,6% tem superior completo e 71,8% estão na faixa etária entre 20 e 49 anos. Ou seja, uma realidade para poucos, muitas vezes adotada pelas empresas ao não encontrarem o profissional desejado no regime presencial. Por isso, profissões aquecidas como desenvolvedores e analistas de mercado financeiro são as com maior oferta de teletrabalho.
Mas afinal, o que podemos concluir?
Primeiramente: não há uma verdade universal nesse aspecto. Imagine que cada empresa é um universo diferente, com sistemas, processos, estruturas, equipes e culturas distintos. Em nosso caso, há áreas da empresa que adotaram a modalidade e estão entregando o resultado proposto; outras, não adotaram e vem batendo recordes de produtividade. Portanto, não é possível afirmar que A é melhor que B.
Além disso, deve-se considerar todas as adaptações a serem feitas para tornar esse estilo produtivo. Eu confesso que ainda tenho dificuldades em emular os encontros do café ou os comentários rápidos e espontâneos. Para mim, não estar presente exige mais disciplina do que a minha capacidade consegue entregar. Tendo a atender a demanda de quem está mais perto, prejudicando a capacidade de entrega.
Por último, entendo que, para o sistema rodar bem, é necessário um esforço maior das empresas para adaptar as rotinas e os rituais de gestão. Por adequação me refiro a uma reengenharia organizada, e não apenas esforços individuais ou sugestões da cabeça. Manter a câmera ligada sempre, fazer várias reuniões, ter encontros semanais, mensais, enfim, várias ideias que surgiram são mudanças que não sobrevivem a um teste Estatístico. Foram alterações feitas no calor do momento necessário e que, para mim, precisam ser revistas periodicamente. Pode ser que funcionem muito bem para a empresa A, mas não se adequem à companhia B.
No geral, penso que a gestão e os rituais de gestão são a chave para tornar o teletrabalho mais produtivo para algumas situações específicas.
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Virgilio Marques dos Santos é um dos fundadores da FM2S, doutor, mestre e graduado em Engenharia Mecânica pela Unicamp e Master Black Belt pela mesma Universidade. Foi professor dos cursos de Black Belt, Green Belt e especialização em Gestão e Estratégia de Empresas da Unicamp, assim como de outras universidades e cursos de pós-graduação. Atuou como gerente de processos e melhoria em empresa de bebidas e foi um dos idealizadores do Desafio Unicamp de Inovação Tecnológica.