Uma instrução oficial da principal associação britânica de médicos obstetras e ginecologistas para que mulheres grávidas evitem usar produtos com muitas substâncias químicas em seu dia a dia está causando polêmica na Grã-Bretanha. Segundo um documento do Royal College of Obstetricians and Gynaecologists (RCOG), assinado pelos médicos Michelle Bellingham e Richard Sharp, as mulheres grávidas e em fase de amamentação que quiserem evitar riscos desnecessários devem reduzir ao mínimo possível o uso de cosméticos, protetores solares, hidratantes ou sabonetes líquidos.
Elas também devem se manter longe de produtos de limpeza, carros novos e tinta fresca, além de evitar consumir alimentos enlatados, acondicionados em embalagens plásticas ou preparados em panelas antiaderentes.
Segundo Bellingham e Sharp, entre as substâncias químicas potencialmente prejudiciais que podem estar presentes em embalagens de alimentos estão o ftalatos e o bisfenol A. E o fato de um produto ser feito a base de “ingredientes naturais” não quer dizer que seja mais seguro, de acordo com os dois médicos, que defendem não haver informações suficientes sobre os riscos para o feto da exposição materna a substâncias químicas contidas em todos esses itens de uso doméstico.
Críticos, porém, classificaram tais diretrizes como “alarmistas”, “inúteis” e “pouco realistas”. “A gravidez é um momento em que as pessoas gastam muito tempo e dinheiro tentando descobrir qual conselho seguir e quais produtos comprar ou evitar. Os pais procuram uma resposta simples à pergunta: ‘Devemos nos preocupar?'”, diz Tracey Brown, da organização Sense About Science, dedicada a ampliar a divulgação e compreensão de resultados de pesquisas científicas.
“Precisamos de mais apoio para compreender esse debate sobre o efeito de substâncias químicas na gravidez. Mas, infelizmente, o RCOG passou longe disso.” “Não há razões para se preocupar”, garante John Harrison, diretor de um centro que avalia as ameaças para a saúde pública da exposição à radiação, agentes químicos e ambientais – o Public Health England’s Centre for Radiation, Chemical and Environmental Hazards.
“Concordamos que é sensato que, por precaução, mulheres grávidas evitem o contato com produtos químicos perigosos, como pesticidas ou fungicidas. No entanto, não há evidências sugerindo que esses artigos de cuidados pessoais sejam um risco”, opina.
P??BLICO-ALVO – O documento do Royal College of Obstetricians and Gynaecologists tem como principal público alvo profissionais da área de saúde responsáveis por prestar apoio a mulheres gestantes e em fase de amamentação, segundo Bellingham. Seus autores admitem que é provável que a maioria dos produtos listados seja inofensiva, mas defendem que, em função da falta de estudos sobre o tema, é impossível avaliar o risco envolvido em seu uso com exatidão.
“Estamos trabalhando para informar melhor as mulheres, não para assustá-las”, diz Bellingham. “Não sabemos como a maioria das substâncias químicas (presentes nesses produtos) pode afetar o desenvolvimento do bebê e vai demorar muitos anos até que tenhamos uma orientação definitiva sobre isso”, completa Sharp.
Para Janet Fyle, da Royal College of Midwives, uma associação de parteiras britânicas, as mulheres grávidas devem usar seu bom senso ao avaliar quais instruções seguir. Ela também defendeu a necessidade de mais pesquisas científicas para resolver as dúvidas levantadas pelo RCOG.
Segundo Chris Flower, da Associação de Produtores de Cosméticos, Artigos de Higiene Pessoal e Perfumaria, antes de chegar ao mercado, muitos dos produtos listados pela associação passam por controles de qualidade e análises para detectar riscos envolvidos em seu uso. Só aqueles considerados seguros seriam colocados à venda.
BBC Brasil