Já parou para pensar quantas vezes uma pessoa interage com a inteligência artificial no dia a dia? O acesso a um aplicativo financeiro em que é preciso um reconhecimento facial, a procura por um filme em meio a diversos conteúdos recomendados de acordo com os gostos do usuário, a busca pela melhor rota em um app de mapas ou, então, o contato com um chatbot – seja para tirar dúvidas ou resolver algum problema. Em todos esses exemplos do cotidiano, a IA, embora “invisível”, se faz presente e funciona como um ponto essencial para análise de dados em larga escala e em um curto período de tempo – nesse caso, falamos apenas de alguns segundos.

Para 2024, não há outro caminho: as tecnologias disruptivas (como a IA) continuarão evoluindo para se tornar mais intuitivas e ainda mais presentes na vida das pessoas. A perspectiva é do Technology Vision 2024, estudo divulgado pela Accenture agora em janeiro. O fortalecimento dessa presença também se dá no âmbito da mensageria – principalmente, no relacionamento entre marcas e clientes. Imagina conversar com um bot capaz de saber as preferências de cada um, a linguagem com a qual o usuário se sente mais confortável em falar e, também, capaz de analisar e responder questões de diferentes níveis de complexidade. Tudo isso já está caminhando – rapidamente – para se tornar uma realidade em diversas companhias e governos.

Mas, diante de todas essas possibilidades e potencial de crescimento, quais são os limites necessários para essa tecnologia? Além disso, de que forma essas “margens” e pontos de atenção poderiam impactar o mercado como um todo e, especificamente, o setor de mensageria?

O mundo todo já tem voltado os olhos para essas questões. Em dezembro, a União Europeia, por exemplo, chegou a um acordo pioneiro em relação à IA, incluindo a utilização da solução por governos na vigilância biométrica e a regulação de sistemas como o ChatGPT. Fatores como obrigação de transparência, proteção dos direitos autorais e cibersegurança estão entre os pontos levantados pela ação. Embora ainda precise passar por votação no Parlamento e no Conselho Europeu, a iniciativa indica um grande avanço nesse quesito, sendo muito provável de se espalhar por outras regiões – incluindo o Brasil.

Em todo caso, a regulamentação da IA tende a ser muito benéfica para diferentes mercados e, na mensageria, isso não é diferente. Uma mudança dessas no Brasil tornaria o País um líder em mensageria digital ética e segura, alinhando os serviços com as expectativas globais de qualidade e confiança. Com regras claras, há a possibilidade de utilizar essas soluções de forma mais assertiva, melhorando a personalização das mensagens, a eficiência na entrega de conteúdo relevante e a detecção de comportamentos maliciosos, como spam e fraudes.

Desafios da regulamentação no Brasil

É claro que, como toda mudança, os setores – principalmente o da tecnologia – precisariam de um tempo, investimento e treinamentos de equipe para se ajustarem. O que, certamente, é visto como um cenário desafiador para as empresas. Mas isso não tira o potencial da IA globalmente. Segundo o levantamento da Accenture, neste ano, por exemplo, a IA generativa deve impactar 44% das horas de trabalho de todas as indústrias, promovendo melhorias de produtividade em 900 tipos diferentes de empregos e gerando até US$ 8 bilhões em valor econômico global.

Mesmo que o ajuste às normas de privacidade e a implementação de sistemas que respeitem os novos padrões éticos seja um processo complexo, não é positivo ver a regulamentação como um obstáculo. Ela é um estímulo para o desenvolvimento de tecnologias de mensageria que são não só avançadas, mas também confiáveis e responsáveis, bem como soluções para diversos outros segmentos.

 

Traçar obrigações para a IA significa impulsionar a mensageria

Pegando o exemplo do que vem sendo desenvolvido na Europa, uma regulamentação de IA no Brasil poderia ser uma força positiva para os serviços de mensageria, tendo em vista a promoção de diversas inovações responsáveis. A primeira característica relevante seria o incentivo maior para a transparência no uso de dados, exigindo que as empresas detalhem como os algoritmos funcionam (como quais informações são coletadas e armazenadas), aumentando a confiança dos usuários.

Um segundo ponto é o inegável ganho de segurança. Fator que, no ano passado, foi a maior preocupação dos executivos de tecnologia – 39% dos executivos de TI da América Latina passaram a investir mais em segurança cibernética em 2023, segundo a Cyber Security Research Latin America 2023, pesquisa da IDC divulgada em setembro. Por isso, considerando IA, ao reforçar a privacidade e dar ao usuário o poder de decidir como suas informações podem ou não ser utilizadas é um grande avanço.

Por último, as plataformas (e empresas no geral) seriam estimuladas a adotar práticas éticas, garantindo a equidade e a justiça no tratamento dos usuários, o que não só protege, mas potencialmente melhora a experiência do usuário.

Diante de todo esse cenário, para 2024, espera-se que o uso de IA na mensageria e no mundo da voz seja não apenas mais sofisticado, mas também mais integrado no dia a dia dos usuários e empresas. Soluções dessa modalidade vão se tornar um elemento “invisível”, mas essencial, que enriquece as interações cotidianas, oferecendo uma experiência excepcional para as pessoas que as utilizarem, seja por texto ou voz. Assim, as possibilidades de serviços automatizados e assistência ao usuário serão ampliadas exponencialmente.

 

Por Thiago Thamiel, cofundador da Robbu