Como os condomínios brasileiros vão conseguir se adaptar ao aumento das vendas de carros elétricos?

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É notável que as vendas de carros elétricos e híbridos no Brasil têm aumentado – de acordo com a Senatran (Secretaria Nacional de Trânsito), o aumento foi de 787,5% entre 2019 e 2023 no país. E, tanto os condomínios residenciais quanto os comerciais estão enfrentando um grande desafio: a instalação de pontos de recarga.

Ao contrário dos automóveis comuns a combustão, os elétricos precisam ficar plugados a uma rede elétrica com uma carga que, dependendo do carregador e da disponibilidade da rede em fornecer energia, pode levar até oito horas. Mesmo num país como os Estados Unidos, em que a quantidade de pontos de carregamento supera de longe a realidade brasileira, o maior receio do consumidor americano na hora de comprar um elétrico é: onde vou carregar meu carro?

No Brasil, a discussão acaba se voltando para os condomínios residenciais, sejam de casas ou apartamentos, cujo maior desafio está relacionado aos custos de instalação e segurança que esse carregamento demanda. Não se trata só de instalar um carregador, é preciso também uma revisão e adaptação da rede elétrica do prédio para suportar a quantidade de eletricidade transmitida, independente de horários e da disponibilidade das concessionárias.

Esse custo de adaptação é muito variável e depende de uma série de fatores, como o estado da rede de cada prédio, a quantidade de pontos de recarga que serão instalados e também da quantidade de carga que poderá ser utilizada ao mesmo tempo. Além da mensuração da quantidade de carros e de horários em que os veículos podem ser carregados, os condomínios têm o desafio de se adaptar às raras – mas possíveis – explosões, um fator que necessita atenção e cuidado.

Em São Paulo, as construtoras paralisaram a oferta de infraestrutura de instalação de pontos de recarga nos novos lançamentos devido a um parecer técnico do Corpo de Bombeiros, que exige regras que inviabilizaram a oferta desses pontos nas garagens de condomínios residenciais. Várias empresas anunciaram, em diversos empreendimentos imobiliários, a oferta de infraestrutura de recarga para veículos elétricos nas garagens dos seus condomínios, porém essa oferta está pendente de uma revisão dessas normas de segurança. Empresas de renome no mercado estão atendendo condomínios já existentes e o preço desse tipo de instalação varia entre R$ 6 mil e R$ 17 mil, dependendo da capacidade do carregador escolhido.

Tais normas estão sendo debatidas em audiências públicas de forma que tornem o processo de carregamento mais seguro para todos. Uma das solicitações do Corpo de Bombeiros que torna inviável a instalação de carregadores em condomínios residenciais ou comerciais é a distância mínima de 5 metros que deve existir entre uma vaga e outra. Atender a essa exigência faz desmoronar o sonho do morador de ter um veículo elétrico e carregar na sua própria casa, pois essa orientação acaba encarecendo o projeto.

Apesar dessas dificuldades, o perfil das vendas dos carros elétricos, aqui no Brasil, está em crescimento e, segundo dados da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), o país tem 152 mil carros eletrificados, incluindo os elétricos e híbridos, que são carregados na tomada, os chamados plug-ins. Esse crescimento pressiona ainda mais o poder público para viabilizar uma proposta de segurança que seja capaz de se manter financeiramente possível.

O vice-presidente de tecnologia e sustentabilidade do Secovi-SP, Carlos Borges, disse em entrevista que a adoção dos veículos elétricos deve ser mais lenta do que a observada em outros países devido a fatores como a indústria do etanol combustível ser menos poluente do que a gasolina, podendo ser mais sustentável a longo prazo. Além disso, temos a lei dos combustíveis do futuro, que estabelece uma nova margem para a mistura de combustíveis renováveis, tornando ainda mais eficazes os combustíveis atuais, diminuindo a sua poluição.

Sabe-se que o Brasil está numa posição privilegiada quando se trata de geração de energia renovável e limpa, o que não faz sentido é a pressão para a troca da frota de veículos a combustão pelos veículos elétricos. A frota nacional de veículos corresponde a 11% da emissão de poluentes, o que nos dá uma posição diferenciada em relação aos demais países desenvolvidos e emergentes.

Qualquer pesquisa mostra que o principal receio do consumidor ao decidir se compra ou não um veículo elétrico é se terá onde facilmente carregar seu carro. Esse receio permeia os demais países e mostra a necessidade de se ter uma política clara sobre os carregamentos dos carros elétricos. Aos condomínios e moradores ávidos por tecnologia, o que resta é esperar para ver qual será a decisão do poder público, que poderá impactar o mercado como um todo, não só os condomínios e prédios residenciais e comerciais. Entendendo que as restrições se igualam a todos os demais modelos de garagem, mesmo os fora de condomínios.

 

*Roberto James é mestre em psicologia, especialista em comportamento de consumo e conselheiro de empresas, e atua há mais de 15 anos no mercado de combustíveis e lubrificantes no Brasil. É também palestrante e autor dos livros “O consumidor tem pressa: corra com ele ou corra atrás dele” e “Vivendo o Varejo Americano: uma viagem no coração do consumo”.

 

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