O 15 de novembro de 2013 não foi só mais um dia para se assoprar velinhas em homenagem à Proclamação da República nem mais um dia de trânsito infernal provocado por brasileiros que marcham para o litoral em busca de descanso e reflexão sobre a República (risos?), o 15 deste ano também foi marcado pela expedição de mandados de prisão a 12 condenados na ação penal 470, o processo do mensalão, três arautos do petismo receberam o ultimato: José Dirceu, José Genoíno e Delúbio Soares.
Cenas marcantes foram produzidas. Dirceu e Genoíno se entregaram e ambos posaram para fotos com o punho levantado, sinalizando para o agora e para a posteridade que, apesar do nocaute, a luta continua. Serão vistos por uns como heróis e por tantos outros como exemplos de que a justiça brasileira entrou em uma nova era em que colarinhos brancos não escapam da cadeia com a facilidade de outrora. Marcos Valério, operador financeiro do esquema, também se apresentou à Polícia Federal, as câmeras e fotografias registraram o momento.
Trata-se de vasto material que será traduzido em narrativas políticas que serão utilizadas como munição nas eleições de 2014. Pergunta derradeira: o mensalão é capaz de decidir uma eleição? Não há resposta exata. O exemplo mais emblemático é a eleição de 2012 à prefeitura de São Paulo porque ocorreu com o julgamento em curso. Açodados disseram que o mensalão não tem peso eleitoral porque o PT venceu a principal prefeitura do país, neste caso, desprezam particularidades conjunturais. 1) José Serra era o padrinho do prefeito que representava a gestão que segundo pesquisas despertava em 85% da população o sentimento de mudança, a rejeição do tucano travou seu potencial. Celso Russomanno em determinado momento virou a GENI da disputa e foi vendido pela prensa e adversários como aventureiro perigoso. Com menos organicidade que PT e PSDB, o candidato do PRB não sustentou a primeira posição e foi ultrapassado por Haddad nos últimos dias de campanha. O jovem Fernando Haddad demorou decolar e não empolgou no segundo turno contra o tucano padrinho da gestão rejeitada, a eleição terminou com 30% de abstenções. O mensalão atrapalhou o desempenho do petista mas outros fatores conjunturais influenciaram o resultado favorável ao PT.
A conjuntura que orbita uma eleição presidencial produz fatores mais complexos que os de uma eleição municipal, portanto, o mensalão não decidirá a eleição mas será uma das armas presentes nas estratégias políticas de governo e oposição. O jogo já começou. José Dirceu e José Genoíno colocaram-se na condição de “presos políticos” e “vítimas das elites”, a militância petista reproduz o mantra. A resistência à prisão foi zero porque poderia gerar repercussão pior para os candidatos do PT. Os petistas contam com o julgamento do mensalão mineiro, que deve acontecer ano que vem, para contrabalancear a guerra de informação e contra-informação durante a eleição.
O mensalão terá cadeira cativa nos debates eleitorais e também nos certames ideológicos presentes e futuros. O escândalo será utilizado por quem não gosta do estatismo para mostrar como o Estado é malvadão ou para provar que o PT é maquiavélico e tentou usurpar a democracia. Será trabalhado pelos petistas como mais um golpe das elites retrógradas que travam mudanças sociais mais radicais que seriam feitas pelo PT em favor dos mais pobres. Narrativas usadas como propagandas e instrumentos de estratégia eleitoral e disputa ideológica. A prisão dos mensaleiros no 15 de novembro de 2013 é mais um capítulo dessa luta política.