Num Brasil que vive um pico histórico de adoecimento emocional, um novo levantamento alerta sobre um fenômeno silencioso: cada vez mais brasileiros têm recorrido à inteligência artificial como espaço de desabafo, acolhimento e organização emocional. O relatório, elaborado pela Mentora Virtual, IA emocional desenvolvida pela EITA, healthtech paulista fundada em 2024, foi realizado com base em mais de 500 mil conversas realizadas na IA durante o período de 2024 e 2025, reunindo interações anônimas feitas via WhatsApp.
Brasileiro e saúde mental
Os dados do relatório mostram que 51% das conversas são sobre emoções e saúde mental, seguidos por relacionamentos (24,6%) e carreira e produtividade (19,4%). Há também conversas sobre hábitos e bem-estar (4,5%), pedidos de companhia (0,7%) e, curiosamente, nenhuma conversa classificada como crise ou alto risco. É a primeira vez que um mapeamento desse tipo revela, com profundidade, o que as pessoas realmente buscam quando conversam com uma IA.
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Para Anaclaudia Zani, psicóloga, neurocientista e fundadora da EITA, esses dados expõem a realidade emocional do país. “As pessoas não estão buscando robôs: estão buscando um espaço seguro para desabafar. A IA surgiu no exato momento em que enfrentamos uma das maiores crises emocionais da nossa história”, afirma.
“Imaginávamos que isso poderia acontecer, mas tem nos surpreendido a velocidade com que esse hábito vem crescendo. No fim, não é que o ser humano não gostava de falar com ‘robôs’, mas sim que os ‘robôs’ que tínhamos não eram capazes de retornar uma resposta satisfatória.”
Essa tendência aparece também em pesquisas externas: um estudo da Talk Inc mostra que 10% dos brasileiros recorrem a IAs para pedir conselhos ou simplesmente conversar, e mais de 60% tratam o chatbot com educação, usando expressões como “por favor” e “obrigado”, o que indica vínculos afetivos incomuns com tecnologias.
Falta de suporte adequado
Segundo Anaclaudia, essa busca crescente tem origem na falta de suporte adequado. Embora o Brasil tenha 547 mil psicólogos, segundo o Conselho Federal de Psicologia (CFP), ainda assim 30% dos trabalhadores enfrentam burnout, de acordo com a Associação Nacional de Medicina do Trabalho (ANAMT).
“A demanda emocional é maior do que a oferta. De um lado, o brasileiro é um povo muito digitalizado e social; de outro, somos um país com altíssima incidência de ansiedade, depressão e burnout”, contextualiza. “Como boa parte da população não tem acesso sequer a auxílio psicológico adequado, uma ferramenta de saúde mental pelo WhatsApp caiu como uma luva para as necessidades do nosso povo.”
A neurocientista acrescenta: “Nosso cérebro é o mesmo do homem das cavernas, feito para riscos pontuais, não para a avalanche diária de estímulos e pressões que vivemos hoje. Nossa ‘máquina’ não foi preparada para isso, ela precisa de treinamento para aguentar, especialmente a mente.”
Apesar dos benefícios, Anaclaudia alerta para os riscos ao desabafar com IAs genéricas. Entre eles, a falsa sensação de companhia e o fenômeno da “sycophancy”, em que modelos generalistas tendem a reforçar crenças do usuário para manter engajamento.
“O isolamento e a falsa sensação de satisfação de interação social é o principal deles. A IA sem dúvida é uma aliada muito importante, mas temos que deixar claro para as pessoas no que ela pode nos ajudar e no que não pode”, destaca. “Esse comportamento de bajulação funciona bem quando se trata de um assistente geral, mas vai totalmente de encontro ao que é necessário para um treino mental. A reflexão só é possível com questionamentos e com o contraditório.”
IA atua como ferramenta de autoconhecimento e gestão emocional
Foi justamente esse cuidado que guiou a construção da Mentora Virtual. Desenvolvida com foco exclusivo em saúde emocional, a ferramenta é uma inteligência artificial projetada para conduzir conversas profundas, organizar pensamentos e estimular a autorreflexão.
Diferente de modelos generalistas, ela opera com protocolos próprios de neurociência, prioriza contrapontos e não reforça crenças apenas para agradar o usuário. Funciona diretamente pelo WhatsApp, em interações que imitam um espaço seguro de conversa, com respostas estruturadas para promover consciência emocional, regular sentimentos e orientar o usuário a identificar padrões de comportamento.
Desde o desenvolvimento, a equipe da EITA optou por priorizar o que o usuário precisa ouvir, não simplesmente o que ele quer. Em testes, versões mais “bajuladoras” eram mais bem avaliadas, mas não promoviam evolução real. “Nosso compromisso com a saúde mental vem antes do NPS. A Mentora existe exclusivamente para ampliar a consciência emocional, organizar pensamentos e provocar reflexões que transformam”, reforça Anaclaudia.
“A principal diferença entre a Mentora Virtual e IAs generalistas é o compromisso dela com a saúde mental do usuário. Ela foi feita para isso e só serve para isso. Ela não vai pensar em como dar a resposta que o usuário quer, mas sim, a resposta que ele precisa.”
Outro aprendizado importante veio da observação do comportamento dos usuários. “O estado emocional e de carência da nossa população é tão latente que precisamos cuidar para que o uso da nossa própria ferramenta não se torne excessivo”, revela Anaclaudia. “Por isso, fomos desenvolvendo desde melhores protocolos para que a Mentora desestimule o usuário de um uso excessivo, até mesmo restrições de acesso.”
O WhatsApp foi escolhido como canal pela ampla adoção no Brasil, presente em 99% da população digitalizada do país. Já o preço foi definido para ser acessível, respeitando a capacidade real da população de pagar por suporte emocional. “Nossa missão desde o dia 01 foi quebrar a objeção financeira quando se trata de ter acesso a suporte emocional de qualidade”, explica.
O fenômeno observado no Brasil reflete uma tendência global. Levantamento do The Brainy Insights projeta que o mercado de saúde mental valerá US$ 280 bilhões nos próximos 10 anos. “Afirmamos categoricamente que o crescimento na busca por terapia que experienciamos nos últimos anos é só a ponta do iceberg. Veremos categorias inteiras surgirem voltadas para saúde mental”, prevê a neurocientista.
Com o crescimento acelerado da base de usuários, a EITA planeja divulgar estudos mais amplos sobre o comportamento emocional do brasileiro, materiais que, futuramente, poderão orientar políticas públicas, pesquisas acadêmicas e decisões de empresas sobre saúde mental. À medida que a Mentora Virtual aumenta sua base, ela se torna um repositório da saúde emocional do brasileiro, uma responsabilidade que a empresa leva a sério.

Para Anaclaudia Zani, estamos vivendo um momento paradoxal e revolucionário.
“Sim, vivemos uma crise emocional grave. Mas também estamos vendo nascer uma tecnologia capaz de transformar vidas em uma escala inédita. Vivemos tempos incríveis! Por um lado, enfrentamos um cenário delicado no que tange à saúde mental, porém, por outro, observamos o nascimento de uma tecnologia fantástica que pode nos ajudar de forma que ainda nem conseguimos estimar. Nossa missão na EITA Mental Health é fazer isso com responsabilidade”.
SOBRE A EITA
A EITA foi fundada em 2024 por Anaclaudia Zani como CEO, psicóloga e neurocientista, Arthur Luiz como CTO e especialista em IA conversacional, Clésio Souza como CMO e estrategista de marca. Em 2025, Marina Marzotto chega à empresa, como neurocientista responsável pelo produto B2B.
A empresa tem três frentes de atuação: Mentora Virtual voltada para pessoas físicas via modelo de assinatura, Norma para empresas que buscam compliance com a NR-01 e inteligência emocional coletiva, e em breve terá uma plataforma white-label que permite que psicólogos ofereçam acompanhamento 24 horas aos seus pacientes.
A missão da EITA é democratizar a saúde mental por meio de tecnologia responsável e método validado de neurociência, enquanto sua visão é tornar o cuidado emocional tão natural e acessível quanto chamar um Uber. “Não somos uma empresa de tecnologia que resolveu fazer saúde mental. Somos uma empresa de saúde mental que usa tecnologia como ferramenta”, define Anaclaudia.
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