Nas fábulas de Esopo (620-564 a.C), célebre escritor da Grécia Antiga, o leão com freqüência representava aquele que se impõe pela força bruta e o poder absoluto. Em uma das histórias, conta-se, o leão, a raposa, o chacal e o lobo saíram em conjunto para uma caçada e, para tanto, acordaram que tudo que resultasse dessa empreitada seria igualmente dividido.Logo na primeira experiência o grupo foi bem-sucedido no ataque a um veado. De pronto o leão ordenou que a presa fosse dividida em quatro partes iguais e em seguida começou a partilha. A primeira parte, naturalmente, ficou com leão, por ser o rei da selva; a segunda também, por ser ele o responsável pela partilha; a terceira, do mesmo modo, por ser a parte de direito; e a quarta ficou com e leão porque esse não acreditava que nenhum dos outros animais estava disposto a disputá-la com ele. O animal político, independente de sua origem (sindical, estudantil, religiosa, industrial), o tempo todo avança e recua, faz concessões e, para o bem da democracia, faz alianças. Nessas alianças, contudo, deve ser considerado não apenas o programa, mas com quem o candidato será capaz de executar esse projeto, sem trair a vontade popular e a expectativa dos cidadãos.  Vivemos em Americana um momento peculiar onde, em nome da salvação municipal, os mesmo grupos que levaram a cidade a uma crise político-administrativa sem precedentes se articulam para fazer valer a máxima de que ???tudo deve mudar para que permaneça tudo exatamente como está???.A confusão entre o público e privado, a falta de compreensão de que os cálculos políticos não podem ser reduzidos a cálculos eleitorais imediatos e o próprio esvaziamento de partidos políticos (que muitas vezes se transformam em meros suportes para vaidades pessoais e não projetos coletivos), contribui para que essa armadilha se apresente à opinião pública quase sem corar o rosto dos envolvidos. Na nossa história real, a despeito da boa intenção de lobos e chacais, o caminho outra vez está aberto para que todas as partes da caça sejam abocanhadas pelos leões, tucanos e toda a fauna que nos últimos anos habita o Paço Municipal Javert Galassi.   Vinícius Ghizini é mestrando em História Social pela Unicamp e militante do PT.