A tríade produzir arte, vendê-la e consumi-la é complexa. Alguns dados são muito curiosos nessa discussão. Um deles é o fato de nem sempre a pessoa que tem dinheiro para comprar ter uma formação adequada para discernir, por exemplo, entre o trabalho de qualidade e aquele que apenas repete modas nacionais ou estrangeiras.
Além disso, quando se pensa hoje em crise da arte, estaria em jogo uma desvalorização do próprio pensamento sobre o que significa a arte e dos elos estabelecidos, de uma forma cada vez mais profunda, entre a imagem, a cultura de massa e a sociedade industrial. O que passa a ter valor não é o objeto de arte em si, mas o valor financeiro que cada objeto tem.
Uma expressão concreta disso pode ser encontrada nos grandes colecionadores de todo o mundo. Ao mostrarem suas obras, não se referem a elas como trabalhos artísticos, analisando seus elementos intrínsecos, como equilíbrio, cor ou luz. Eles a tratam como “tenho um Portinari”.
O mercado de arte, seguindo essa lógica, vê mais a assinatura do que o trabalho. O curioso é que essa valorização do artista, enquanto produtor do trabalho, sob uma espécie de aureola mística e mesmo mística, remonta ao romantismo. Assim, a crise da arte nos traz à crise do próprio indivíduo. A grande incógnita contemporânea é para onde tudo isso leva…