Novo governo em São Paulo. Promessas, análises e alguma agitação. Tema: Segurança Pública. Ninguém consegue mais conviver com a violência que tomou conta do Estado. A polícia não pode usar câmeras. O governo tem acordo com organizações criminosas. Enfim, toda vez que o tema é abordado, há uma enxurrada de comentários e explicações. Como não sou especialista e conhecedor da área, me atenho aos dados.
Por isso, fui até o site da Secretaria de Segurança Pública e achei, sem muita dificuldade, os dados das taxas de delitos por 100 mil habitantes. E, no artigo de hoje, vou visitá-los. E o primeiro, o homicídio.
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Figura 1: Taxa de homicídios por 100.000 habitantes. Fonte: SSP-SP
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Pelo gráfico da figura 1, parece que São Paulo tem mais a ensinar do que mudar no assunto homicídios. A melhoria é clara. Por melhoria, usa-se a definição: mudança com impacto significativo e duradouro num indicador de interesse da organização – no caso, do governo de São Paulo. Para fins de comparação, a média nacional é de 18,7 ante aos 6,26 do Estado, três vezes maior. Já a Bahia, além da dificuldade para coletar os dados, apresentou taxa de 36,30 em 2020, sem tendência de queda desde 2012.
Portanto, cuidado com as correntes e imagens que foram utilizadas durante o período eleitoral que mostravam o Estado como um lugar violento. Pelos dados, pode-se dizer que a violência está diminuindo, principalmente referente ao número de homicídios. 6 é um bom número? Se compararmos com os 0,91 de Portugal ou 0,25 do Japão, certamente não.
Mas é importante notar que é o mesmo número dos Estados Unidos (6,52) e um pouco superior ao da Argente (5,35). Isso mostra que há um longo caminho a ser percorrido para baixar de 1 a taxa, mas que muito foi feito para a sua redução.
Qual o comportamento dos outros crimes?
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Figura 2: Taxa de roubos por 100.000 habitantes. Fonte: SSP-SP
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A história contada pela figura 2 é diferente. Independente do governo, a taxa permanece estável, sob o ponto de vista estatístico. Fica mais claro se retirarmos a separação por governo, figura 3.
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Figura 3: Taxa de roubos por 100.000 habitantes. Fonte: SSP-SP
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Pela figura 3, fica claro a estabilidade do processo. Durante todo o período, houve apenas 4 pontos que podem ser considerados causas especiais: 2014, 2015, 2016 e 2020. Dessa forma, explica-se um pouco a percepção de que a violência está presente na população. Por mais que os homicídios caíram 6 vezes, os roubos permaneceram estáveis. Digno de nota: a redução significativa no ano de 2020, dado em grande parte pela pandemia. Entretanto, para ser considerada uma melhoria, é necessário que seja perene.
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Figura 4: Taxa de furtos por 100.000 habitantes. Fonte: SSP-SP
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A taxa de furtos, figura 4, também continua estável. Com três causas especiais, 2004, 2005 e 2020. A última, assim como a taxa de roubos, causada pela pandemia. Dessa forma, esse é mais um indicador que contribui para a percepção de insegurança compartilhada pelos paulistas. Portanto, assim como os roubos, esse tipo de crime deve ser uma prioridade do novo governo, se a melhora da percepção da segurança for uma de suas metas.
E o Rio de Janeiro?
Para fins de comparação, buscamos os dados da Secretaria de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro. Assim como São Paulo, não houve dificuldade em baixar a base de dados para análise. Na figura 5, está o gráfico de controle da taxa de homicídios por 100.000 habitantes.
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Figura 5: Taxa de homicídios por 100.000 habitantes no Rio de Janeiro. Fonte: SSP-RJ
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Pela figura 5, o Rio mostrou queda na taxa de homicídios, entretanto, menor que a de São Paulo. São Paulo reduziu em 6 vezes, enquanto o Rio de Janeiro, pela metade. Talvez, como boa prática, fosse importante o governo carioca buscar em São Paulo inspirações. Se a redução fosse parecida, hoje o Rio estaria em torno de 7 – muito mais seguro.
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Virgilio Marques dos Santos é um dos fundadores da FM2S, doutor, mestre e graduado em Engenharia Mecânica pela Unicamp e Master Black Belt pela mesma Universidade. Foi professor dos cursos de Black Belt, Green Belt e especialização em Gestão e Estratégia de Empresas da Unicamp, assim como de outras universidades e cursos de pós-graduação. Atuou como gerente de processos e melhoria em empresa de bebidas e foi um dos idealizadores do Desafio Unicamp de Inovação Tecnológica.
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