Outras páginas para José Dirceu.
Ainda Ministra do Governo Lula, Dilma Rousseff respondeu categoricamente às provocações do Senador Agripino Maia (DEM) que afirmara, na Comissão de Infra-Estrutura do Senado, que Dilma havia mentido durante a ditadura e, portanto, teria credibilidade sob suspeita. Dilma respondeu: ???Menti e mentiria de novo. Qualquer pessoa que ousar falar a verdade para os torturadores, entrega os seus iguais. Eu me orgulho muito de ter mentido na tortura???. A resposta enfática de Dilma a colocou em destaque no cenário nacional. Recupero esse espírito para comentar o texto publicado pelo Editor de Opinião do Jornal O Liberal, no dia 14/11/2012, sob título ???Estou com dó de Zé Dirceu???.
Não vou entrar no mérito do julgamento da AP 470. Vivemos em pleno Estado de Direito, as instituições funcionam, os agentes de Estado são investigados, o Ministério Público oferece denúncias e a Suprema Corte julga sem interferência do Executivo.Assim, as decisões judiciais devem ser cumpridas, assim como são passíveis de contestação. Nesse caso, diga-se de passagem, mais influenciadas pelo ajuste ao calendário eleitoral e pela pressão midiática do que pautadas pela racionalidade exigida em decisões desse porte.
Se podemos polemizar nas páginas desse jornal, conversar sobre o julgamento no trabalho, na escolas e nos bares sem medo de repressão; se podemos, em suma, questionar abertamente os rumos desse episódio, devemos isso àqueles que ousaram enfrentar a ditadura civil-militar brasileira (1964-1985), entre os quais estão José Genoíno e José Dirceu. Quando jovens esses que agora estampam os jornais enfrentaram forças conservadoras que prendiam, matavam e torturavam adversários. Optaram pelo caminho da contestação e entregaram os melhores anos de suas vidas à luta pela libertação do nosso povo e por esse direito inalienável que é a liberdade.
Assim sendo, são inoportunas colocações como ???se o cidadão enganou a própria mulher o que não pode fazer com cidadãos comuns???? e qualquer associação com o momento atual. Tais afirmações desrespeitam a memória das vítimas da ditadura, os familiares dos desaparecidos, assassinados e torturados e, acima de tudo, qualquer cidadão que se norteie pelo respeito aos direitos humanos e compreenda aquele contexto. José Dirceu, naquele momento, preservou a vida da sua família. Já afirmações como ???nunca trabalhou na vida??? atingem com a mesma gravidade a atividade política e reproduzem imagens do senso comum. Não existe democracia sem parlamentares, candidatos, deputados, presidentes de partidos. A alternativa a isso é o arbítrio. José Dirceu foi diversas vezes eleito pelo voto popular, sendo deputado constituinte por São Paulo em 1987, Deputado Federal 1991, 1998 e 2002 (o mais votado do Estado), Ministro-Chefe da Casa Civil entre 2003 e 2005 e novamente Deputado Federal. Em nome da justiça e da verdade, gostando ou não de quem exerça eventualmente esses cargos, não há como afirmar que quem presta tais serviços à nossa República ???não trabalha???. Essa é apenas uma estratégia para diminuir a relevância de sua trajetória política.
O juízo da História, com efeito, tem seu próprio tempo e não é o mesmo dos tribunais. Muitos dos que foram considerados culpados e condenados em seu tempo foram absolvidos pela História. Para ter direito a essa revisão, figurar nos livros e na memória social, no entanto, não basta escapar do moralismo de ocasião. O personagem há que ser digno de nota e e registro. Esse é, certamente, o caso de José Dirceu.
Vinícius Ghizini, 25, é historiador e membro da Executiva Municipal do PT/Americana.registro. Esse é, certamente, o caso de José Dirceu.
Vinícius Ghizini, 25, é historiador