Manifestações contra o aumento das tarifas de ônibus tomaram as principais metrópoles brasileiras. Rio de Janeiro, Florianópolis e São Paulo foram os casos que mais chamaram atenção pela ação violenta de alguns policiais e alguns manifestantes. Os protestos representam uma agonia que assola os cidadãos: transporte público de má qualidade, sem pontualidade e que ano após ano fica mais caro.
Não se viu povo nos protestos. O ???cidadão comum??? não tem tempo e energia para participar de manifestações. Se o Pedro pedreiro perde dois ou três dias de trabalho, para manifestar, coloca seu emprego em risco, portanto, inexoravelmente, as manifestações foram instrumentalizadas política e ideologicamente por partidos e movimentos organizados de ???extrema esquerda???. Grupos com capacidade de arregimentar estudantes e próximos de movimentos como ???Passe Livre??? e acostumados a treinarem militantes para atos de rua.
A causa é legítima. De fato o povo não tem meios de reivindicar. Os políticos amarrados à lógica gerencial e aos empresários não conseguem acelerar a agenda que interessa ao cidadão. Bilhete único foi uma política inovadora e as construções de linhas de metrôs ajudam, mas ainda há gargalos: frota de ônibus reduzida, impontualidade e preço injusto. ?? fato que o serviço custa caro e as empresas necessitam lucrar. Por outro lado as empresas têm obrigação de respeitar os usuários. E o Estado tem de garantir isto. As manifestações acontecem porque o Estado não cumpriu seu papel da maneira esperada pela sociedade.
?? verdade que os movimentos citados misturam causas subjetivas e delírios ideológicos aos propósitos dos cidadãos bem como buscam o conflito com a polícia para terem depois condições de acusar de opressor o governador tucano de São Paulo que consideram de direita. A agenda dos grupos de ???extrema esquerda??? é em alguns pontos alheia aos desejos dos cidadãos. Algo público também tem custo. O usuário de transporte público não quer financiar por meio de seus impostos o ???passe livre??? de estudantes de classe média. Tampouco anseia pela chegada do comunismo. O usuário quer transporte público confortável, pontual e com um preço condizente com a qualidade oferecida.
Não se trata de uma tarefa fácil. Ainda mais em São Paulo, cidade com estrutura urbana complexa e que concentra em determinados pontos milhões de pessoas. Os ônibus passam períodos longos nos congestionamentos e os custos aumentam. O cidadão passa mais tempo dentro do transporte desconfortável. O estresse aumenta. Uma hora a coisa explode.Políticos, movimentos organizados e empresários devem encontrar saídas modernas e inovadoras e se esmerarem em exemplos que deram certo dentro e fora do Brasil. O governo não pode apenas aumentar anualmente o preço das tarifas e não apresentar saídas para melhorar o transporte público. Nem tudo gira em torno dos interesses dos empresários e da saúde gerencial do governo. Saídas de curto, médio e longo prazo são necessárias. Qual o projeto?
O debate necessita ser amplo e republicano, visando um ponto comum entre os interesses empresariais, políticos e os da população. Para tanto, sociedade organizada, políticos e a iniciativa privada devem se entender. Com agendas diletantes, protagonismo tecnocrático e violência, avançaremos pouco.
Por André Henrique