A pandemia do Covid-19 e o isolamento social necessário reinventaram o comportamento dos brasileiros em relação ao trabalho, ao consumo de produtos e serviços e à convivência dentro de casa com seus familiares. Segundo pesquisa, esses novos hábitos vieram para ficar.
Para entender este cenário do “novo normal” da rotina do brasileiro durante a quarentena, e os indicativos de comportamento após o isolamento social, a Hibou, empresa de pesquisa e monitoramento de mercado, em parceria com a Indico, plataforma de dados, levantou um estudo entre os dias 17 e 18 de abril, com mais de 3 mil brasileiros que mostra a grande mudança que o consumo está sentindo e irá sentir após pandemia.
Impactos financeiros
A conta já aparece para a maioria dos brasileiros, em que 64,8% dos entrevistados já sentiram o impacto negativo do isolamento em seus ganhos financeiros. Já para 32,5%, os ganhos financeiros permaneceram os mesmos. E para uma minoria de 2,7%, os impactos desse novo momento foram muito positivos.
“Alguns setores souberem se adaptar mais rápido, como delivery de alimentos ou inclusão de novos produtos como máscaras descartáveis, e álcool gel, e com isso trouxeram uma nova renda ao negócio.” explica Ligia Mello, responsável pela pesquisa, e fundadora da Hibou.
Mais da metade dos brasileiros, 53,7%, têm evitado qualquer tipo de compras desnecessárias, enquanto 34,7% têm medido melhor a necessidade de uma compra. Uma minoria (5,6%) está apenas aguardando para retomar seus hábitos de compra, e para 6,2% ainda nada mudou.
“Enquanto é normal que a maioria da população tenha freado as aquisições dado não só o momento, mas as incertezas de como o mercado brasileiro lidará com a retomada, o interessante é que um terço dos consumidores está envolvido em criar novos critérios de compras e próprios de decisão, aprendendo, por exemplo, a lidar com a espera. Quanto mais longo for o isolamento social, mais a gratificação imediata deverá ser considerada por profissionais de consumer experience e jornada de compra que façam uso de antecipação (hype), raridade e imediatismo.” explica Ligia.
Consumo consciente
Após a quarentena 88,4% dos brasileiros pretendem comprar menos por impulso, pensando mais no que vai gastar. E isso vale também para marcas famosas e queridinhas dos consumidores, pois 72,2% afirmam que estão menos dispostos a pagarem mais caro por um produto só por ser de uma marca famosa que gostam.
“Existem marcas conhecidas, e marcas conhecidas pelo que elas entregam. Se durante a última década vimos o crescimento do ‘uma marca não é quem ela diz ser, é o que dizem dela’, hoje temos essa consolidação e ao mesmo tempo, como em qualquer outra crise, caem as margens para mark-up baseado apenas em construção de imagem” diz Marcelo Beccaro, responsável pela pesquisa, e fundador da Hibou.
Em contrapartida o consumo local ganha espaço na visão dos entrevistados e 61,5% deles estão mais dispostos do que antes a pagar um pouco mais caro por um produto que ajude a sua região ou cidade.
“A restrição de mobilidade trouxe um novo olhar das pessoas para os bairros onde residem, pois antes elas só circulavam por seus bairros pela manhã ou no retorno ao trabalho onde quase tudo já estava fechado. Agora elas passaram a conhecer o pequeno restaurante local, mercadinho da rua, ou entregador de água, e criou-se um laço que provavelmente será mantido após o confinamento” diz Marcelo.
Para 31,9% dos brasileiros, até o dia 15 de março, o shopping era o local preferido para as compras. Após o isolamento, ainda sem data definida, 40% dos brasileiros disseram que querem criar uma nova rotina que mistura um pouco de tudo, e 31,2% querem valorizar mais o comércio de seus bairros. Para 17,7% a compra pelo digital será sua definitiva primeira opção.
O brasileiro acredita que as marcas têm importante papel que vai além de seus produtos e serviços e esperam delas atitudes. 95,9% valorizará aquelas conscientes.
74,62% dos entrevistados notaram alguma grande marca tomando atitudes relevantes neste momento de pandemia. As mais citadas foram: Ambev, Itaú, Magalu, Boticário, Ypê, Americanas, Seara, Natura e Bradesco.
“As marcas precisam ter atitude conscientes, olhando todas as suas redes de operação, apoio e consumo trazendo o melhor para a sociedade em que atuam.” Explica Ligia Mello.”?? importante que o C-level e agências entendam que os últimos anos da comunicação foram voltados a criar jornadas de consumo relevantes junto ao consumidor, e poucas coisas criam laços tão fortes como uma experiência compartilhada. Desta vez, quem vende e quem compra não estão em lados diferentes da equação, mas do mesmo lado de uma luta quase invisível. Isso muda, mesmo que por uma janela de tempo limitada, o que significa ser uma marca ou empresa relevante, e abre porta para uma memória afetiva muito mais duradoura.” conclui Beccaro.