O início recente das operações da usina de reciclagem Serello Ambiental representa um avanço na destinação correta dos materiais provenientes da construção civil na Região Metropolitana de Campinas (RMC). O empreendimento é o braço que faltava para cidades da região se adequarem ao Plano Nacional de Resíduos Sólidos.
Entre as vantagens conquistadas estão a diminuição da clandestinidade de caçambas, das disposições inadequadas de entulho e do custo de frete para destinação desse material. Estima-se que a despesa mensal gerada por essas irregularidades às cidades seja de R$1,00 por habitante, ou seja, aproximadamente R$120 mil todo mês somente para a cidade de Valinhos. A gestão do entulho alavanca as cidades na obtenção da Certificação Município Verde Azul, do Governo do Estado de São Paulo, que pode ser convertido em benefícios como ambulâncias e maiores repasses às prefeituras certificadas. Além disso, o direcionamento correto do resíduo inerte pode duplicar o tempo de vida de um aterro sanitário.
Os sócios-proprietários da empresa, o engenheiro Pedro Henrique Serapião e o químico Rafael Cossiello, visitaram mais de 13 usinas de britagem, inclusive nos Estados Unidos, para fundamentar a empresa. Tamanho empenho rendeu ao projeto o 1º lugar no 6º Prêmio Milton Vargas, na categoria ambiental, pela revista Fundações e Obras Geotécnicas. O resultado é uma unidade de operações com tecnologia de ponta instalada em uma área de 51.000m² no eixo logístico da Rodovia Anhanguera. ???Trouxemos o que existe de mais moderno em instalações e britagem de materiais e, hoje, seguramente, temos uma das mais eficientes usinas do País???, afirma Serapião.
Economia na obra
A premissa da Serello é tratar o entulho como material nobre a ser retornado para a cadeia da construção civil com o grande diferencial da logística reversa dos transportadores de caçambas como forma de capilarizar a entrega dos agregados reciclados nas obras, o que diminui significativamente os custos do empreendimento. ???Em um mesmo frete o cliente envia o entulho à destinação correta e carrega novos produtos provenientes daquele material, como areia, pedrisco, britas, rachão e bica corrida???, explica o engenheiro.
Esses agregados são empregados em inúmeros fins, como em drenos, base e sub-base de pavimentação, aterramento de valas, aplicações em alvenaria, muros, calçadas, pisos, valetas e fabricação de artefatos cerâmicos e de concreto como tijolos, blocos entre outros. ???Após tanto estudo, agora é tempo para fazer valer as propostas de respeito ao meio ambiente, de inclusão social e de competitividade econômica em processos sustentáveis e eficientes???, vislumbra Cossiello.
Impacto ambiental e oportunidade de negócio
Há 15 anos o Conselho Nacional do Meio Ambiental (Conama) estabeleceu diretrizes, critérios e procedimentos para a gestão dos resíduos da construção civil. Segundo Cossiello, essa resolução veio como um grande farol de esperança para milhões de brasileiros e milhares de cidades que vinham sofrendo com a destinação incorreta do entulho em rios, lagos, terrenos baldios e lixões. ???Tanto tempo se passou e o entulho ainda é descartado nesses mesmos lugares e tratado como lixo, sendo muitas vezes misturado aos resíduos orgânicos domésticos e destinado em aterros sanitários???, lamenta o empresário.
Segundo o último levantamento da Associação Brasileira para Reciclagem de Resíduos da Construção Civil e Demolição (Abrecon), 55% do total de resíduos gerados é referente a restos de construções civis, sendo que a taxa de geração de entulho por m² de construção varia entre 100 e 150 quilos, considerando edificações executadas por processos convencionais. A Serello Ambiental terá capacidade para receber diariamente cerca de 100 a 200 caçambas, o equivalente a 500 a 1.000 toneladas de resíduos, dependendo do tipo de material coletado.
???Nossa operação de recebimento envolve as duas classes de entulho: tanto o material cinza, como por exemplo, blocos, colunas de sustentação e lajes, como material vermelho, a exemplo de tijolos, blocos cerâmicos e telhas. Trabalhamos também com o beneficiamento da madeira, como tapumes, madeirites, pontaletes e pallets para a fabricação de cavacos de madeira para aplicação como biomassa na indústria em fornos e caldeiras???, esclarece Cossiello.
Plantio de árvores e apoio estadual
Além de tratar dos resíduos da construção civil, os sócios realizaram o plantio de mais de 700 mudas de espécies nativas na bacia hidrográfica do PCJ e mais 160 na própria área da usina.
O investimento total do projeto foi de cerca de R$12 milhões com a geração inicial de 15 novos postos de trabalho. O projeto é apoiado pela Investe São Paulo, agência de promoção de investimentos ligada à Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado de São Paulo, que valoriza a gestão responsável de resíduos sólidos, uma das prioridades do governo paulista.