Com a morte recente da menina Maria Eduarda de Araújo Pigato causada pela picada de escorpião, em Santa Bárbara d’Oeste, muitas pessoas passaram a questionar a necessidade de manutenção do soro em outras unidades de saúde em municípios da região, além do Hospital Municipal “Dr. Waldemar Tebaldi”, em Americana.
As manifestações, principalmente nas redes sociais, têm sido intensas, com a argumentação de que para não morrer em consequência da picada, a vítima do acidente deve ser encaminhada ao HM, uma vez que lá existe o antídoto. Mas apesar das reivindicações, os números mostram que a utilização do soro representa um ínfimo percentual no rol de procedimentos, quando comparada com o número de atendimentos realizados aos pacientes no próprio Hospital Municipal.
De acordo com dados da Vigilância Epidemiológica de Americana, entre 2010 e 2018 (até o mês de outubro) 2.619 pessoas foram vítimas de acidente com escorpião no município- uma média de 0,9 ataque por dia.
Desse total, duas crianças morreram, sendo uma em 2013, cujo acidente ocorreu no bairro Praia Azul e a outra em 2017, vitimada no bairro Jardim Boer. Apesar dessas duas mortes, o uso do soro antiescorpiônico não foi o fator determinante para salvaguardar a saúde da maioria das vítimas, já que os médicos precisaram intervir com a soroterapia em apenas 96 pacientes, o que representou 3,7% do total de atendidos.
No caso das duas mortes ocorridas em Americana, ambas as vítimas chegaram a receber o soro, mas devido às complicações ocasionadas pela toxina do animal, não foi possível reverter o quadro. Já no caso mais recente, da menina de Santa Bárbara d’Oeste, ela não chegou a tomar o soro, embora ele tenha ficado à disposição para os profissionais que atenderam a menor no pronto-socorro Edison Mano.
O Hospital Municipal é um ponto regional de abastecimento de soro antiescorpiônico, para atender casos graves de acidentes causados em moradores de Americana, Santa Bárbara d’Oeste e Nova Odessa. Lá é mantido sempre um estoque mínimo do soro, cujo controle é feito semanalmente a fim de garantir a reposição em caso de uso por algum paciente. Embora a unidade hospitalar seja uma referência no fornecimento do soro pelos órgãos estaduais, durante os atendimentos de rotina os médicos têm conseguido resolver o problema, conforme a conduta necessária a cada caso e seguindo os protocolos existentes para acidentes com animais peçonhentos, sendo que na maioria dos casos tem havido apenas a necessidade de tratamento local, à base de anestésico e analgésico. Os números demonstram essa realidade, já que em praticamente uma década foram utilizadas apenas 277 ampolas do soro pelo HM.
Segundo o médico infectologista, Arnaldo Gouveia Junior, as pessoas que sofrem picada do escorpião não precisam necessariamente buscar socorro médico no HM, pensando no fato de que a unidade dispõe do soro. De acordo com ele, os acidentes envolvendo crianças, apesar de resultarem em maior gravidade, representam a minoria dos casos, o que justifica em grande parte o baixo percentual de uso do soro. “A maior parte da população que é picada por escorpião é de homens adultos (…) os casos que demandam o soro basicamente são de crianças, que é a minoria dos casos e onde ocorrem os mais graves. Por isso nós temos essa taxa de menos de 5%”, explicou.
Em caso de acidente com escorpião, o indivíduo deve ser encaminhado imediatamente ao pronto-socorro mais próximo do local do acidente, onde ele será avaliado pelo médico quanto à necessidade ou não do uso do soro, sob o risco de que quanto mais tempo levar para o primeiro atendimento, maiores serão as chances de haver complicações causadas pelo veneno.