Desde o dia da última enchente aqui na cidade, alguns questionaram-me sobre as explicações. Teriam sido os dois tanquinhos que romperam? Foi a chuva intensa? Foi mais uma barbeiragem do DAE? Enfim muitas elucubrações.
Hoje percorri os locais mais representativos do ocorrido. Mas primeiro vamos recordar o verão 1997/l998, quando fato semelhante ocorreu somente na bacia do Córrego São Luiz e Alambari, mas este não tem importância nas inundações urbanas. Naquela oportunidade tivemos uma inundação aqui na cidade com sol ardente. Choveu muito na madrugada e a onda de cheia só chegou aqui na cidade ao meio dia. Naquela época não tínhamos a Represa do São Luiz.
No presente caso, parece-me que a chuva foi mais abrangente. Não sei o volume precipitado. Falam em 150 mm, 100 mm. Talvez não tenha chega a isso, mas certamente foi intensa e concentrada no tempo. Encontramos muito erosão laminar mesmo em áreas cobertas por canavial. O fato do solo já estar saturado reduziu a infiltração e potencializou o fenômeno.
Por outro lado dizer que os rompimentos de 02 lagoinhas provocaram o fenômeno me parece apelação e falta do que se falar. Mesmo que esses “tanquinhos” armazenassem 5 mil m³ de água, seu rompimento provocaria o aumento de apenas 5 milímetros na lâmina d’água das Represas São Luiz e do Cillo, com reflexos pequenos na vazão afluente, cuja lâmina passou de 600 mm , a julgar pelos vestígios nos vertedouros. Portanto falaciosa a desculpa das represas particulares rompidas.
Mas temos outro fato que não se fala, ou seja, a Represa do São Luiz tem uma “comporta móvel”, redundante porque comporta tem que ser móvel, equivale a uma estrutura hidráulica com portas para extravasar água. Essa comporta foi concebida para conter ondas de cheia, ou seja, conter cheias que tenham origem a montante, para cima do barramento. Excepcionalmente essa comporta pode ser fechada para armazenar água, mas segundo os projetistas a partir de abril e até setembro, quando as ondas de cheia são improváveis, logo manter comporta fachada no período chuvoso é muito perigoso.Pode comprometer a estabilidade da represa e no presente caso comprometeu. Felizmente não rompeu. O rompimento da Represa São Luiz arrastaria também a Represa de Cillo (Clube da Romi) com consequências catastróficas para a cidade. Não sei até onde a água chegaria, mas bairros inteiros despareciam e vidas seriam perdidas.
Se a comporta estivesse aberta, como deveria estar, poderia ser fechada e usada para conter a onde de cheia, Talvez não fosse suficiente para evitar em absoluto o extravasamento na malha urbana, mas certamente minimizaria suas consequências.
Todo a sequencia e metodologia esta no documento chamado ” DIRETRIZES OPERACIONAIS DA REPRESA S??O LUIZ” ,elaborado pelo Dr. Constantino Neto, barragista de larga experiência e projetista das nossas represas.
Portanto se tem alguém a ser responsabilizado, esse é o DAE e o responsável técnico pela área. Pedir para esses indolentes lerem as recomendações já é muito, quanto mais levantarem de madrugada e operarem adequadamente as estruturas hidráulicas.