“A esquerda deveria assinar um manifesto de apoio ao general?” pergunta J.R.Guzzo no artigo “Chegará a hora” (Veja, 27-9), comentando o recente pronunciamento de uma patente do Alto-Comando do Exército, que sustenta a necessidade de uma intervenção militar, caso os Três Poderes da nossa República (legislativo, executivo e judicial) não consigam resolver a gravíssima crise ético-poítica causada pela corrupção sistêmica e pela impunidade.
Para responder a esta pergunta precisamos observar que os dois tipos de governo, o militar e o esquerdista, já estiveram no poder no Brasil e não conseguiram debelar a corrupção e a impunidade, causas primordiais da falência do Estado e dos serviços públicos, como de todas as formas de violência. A ditadura, de 1964 a 1985, alimentou os piores currais eleitorais, a serviço de políticos corruptos, tipo Sarney e Maluf. De outro lado, a esquerda petista que governou de 2002 a 2016 (Lula e Dilma) tornou a corrupção endêmica e no momento está defendendo a impunidade, contestando as investigações da Lava Jato. Os três maiores partidos da atualidade têm seus principais chefes indiciados em processos por crimes eleitorais: Lula do PT, Temer do PMDB, Aécio do PSDB.
Em vista de que nossos parlamentares estão mais preocupados em aumentar o fundo partidário para sua propaganda nas próximas eleições do que em realizar uma profunda reforma de moralidade política, para afastarmos o fantasma de uma intervenção militar precisamos promover uma “Intervenção civil”, como propõe Nizan Guanaes (Folha, 26-9). Quem deveria pegar nas armas para defender nossa democracia não são os militares, mas a sociedade civil, mediante uma mobilização organizada. Nossa armas devem ser o celular, a internet, as redes sociais, as ruas com manifestações pacíficas, a imprensa, a TV, plebiscito ou referendum, revogação de mandato e, sobretudo, o voto consciente que impeça a reeleição de políticos desonestos ou incompetentes. ?? essa intervenção civil que está na base de grandes nações, especialmente de cultura escandinava ou anglo-saxônica.
Salvatore D’ Onofrio é Doutor pela USP e Professor Titular pela UNESP.