Leituras açodadas da última pesquisa do Datafolha podem levar a conclusões precipitadas sobre a força eleitoral dos pré-candidatos à presidência da República. A eleição está longe, e não é certo que ocorrerão eleições antecipadas. Portanto, pesquisas, agora, são fotografias do momento. Mas dizem muita coisa. Lula lidera um cenário isoladamente, e outros três, empatado com Marina Silva. Os tucanos em queda, em especial, Aécio Neves. Marina e Lula têm motivos para comemorar?
 O ex-presidente Lula mostrou sua capacidade de sobrevivência nos momentos mais complicados. No dia da condução coercitiva, logo depois de prestar depoimento à PF, o petista deu coletiva de imprensa e convocou os movimentos sociais a irem às ruas marchar contra o golpe da direita. Lula surfou nos abusos de Moro e usou a megalomania da TV Globo contra ela ao ocupar mais de meia hora de espaço na emissora para posar de vítima e inflamar a militância vermelha. As esquerdas, acanhadas com os descaminhos do governo Dilma, resolveram esquecer as diferenças e se uniram em defesa de Lula e do governo Dilma, vai daí que as manifestações dos dias 18 e 31 de março foram gigantescas. Lula capitaliza esses eventos para se manter no jogo e constranger inimigos. Desgastado e com a maior rejeição, o petista não tem garantia de sucesso eleitoral, entretanto, render-se, neste momento, seria pior. Se Lula reage, na adversidade, Aécio Neves, em contrapartida, não consegue se sobressair nem com as condições gritantemente favoráveis. O mineiro saiu das eleições de 2014 com 50 milhões de votos para se opor a um governo que em poucas semanas chegou a míseros 10% de ótimo e bom. Em um ano, Aécio foi de principal nome da oposição a vaiado por seus simpatizantes nas passeatas de 13 de março de 2016. A credibilidade de Aécio Neves em um primeiro momento evaporou porque seus acólitos se cansaram de seu oposicionismo burocrático e vazio de propostas. O segundo momento foi marcado pela quinta citação na Lava-Jato que aponta o senador novamente como chefe de mensalão em Furnas. Não dá para conciliar tal situação com os discursos moralistas dominantes nas pradarias “verdes e amarelas”. O mineiro fracassou na interlocução com o mercado financeiro e no Congresso. O PMDB roubou a cena: deu as cartas na relação com o governo Dilma e comanda o processo de impeachment. Os projetos “Ponte para o Futuro”, capitaneado por Michel Temer, e “Agenda Brasil”, do senador Renan Calheiros, são propostas do partido para o Brasil superar a crise econômica. Os dois projetos dialogam com o mercado e contaram com participação de José Serra. O tucano está cada vez mais próximo dos peemedebistas. Perceberam? José Serra e o PMDB avançam. Aécio Neves patina. Geraldo Alckmin deu passos importantes para ter o PSDB em suas mãos nas eleições de 2018. O principal deles é a consolidação de seu apadrinhado João Dória Jr como candidato à prefeitura de São Paulo. Alckmin se projeta para 2018. Nada propõe, e está cercado por escândalos, da merenda e do metrô. Atraiu antipatia pelo modo autoritário com que tratou estudantes e professores em querelas sociais. Perdeu pontos na pesquisa do Datafolha, mas foca 2018, e busca isolar Aécio.                                                                                          José Serra é o único opositor que fez propostas para o país superar a crise, mas elas se limitam ao terreno econômico e seu projeto do Pré-Sal ainda não convenceu a sociedade. O ninho tucano dialoga com o mercado e ignora o social – eis uma das principais causas das quatro tundas eleitorais que o PSDB tomou do PT e uma das razões para o desempenho pífio dos tucanos na mais recente pesquisa do Datafolha.   Marina Silva poderia estar em situação mais confortável, porque não está na mira da Lava-Jato e acumula capital político das últimas eleições. Contudo, desde o início de 2015, a líder do REDE movimentou-se pouco politicamente. Marina segue sem projeto e ambígua ideologicamente, vai daí que não consegue capitalizar os ventos favoráveis. Lula, em contrapartida, em meio às chamas do inferno, reage e avança. Ela não tem o carisma, a astúcia e as bases sociais do petista. Esses elementos devem servir de alerta para Marina Silva entender que só Neca Setubal não basta. Não há motivos para os petistas soltarem rojões. Como tratei no texto, Lula se mantém na crista da pesquisa porque foi hábil ao capitalizar politicamente a contra-ofensiva das esquerdas e os desatinos de Moro. Favorecem Lula também os fatos de a oposição não ter um líder popular com suas credenciais e um projeto de nação capaz de contagiar a sociedade de baixo para cima. Contudo, é sempre bom destacar que não será fácil Lula e o PT superarem o processo de desgaste pelo qual passam. Se mal interpretada, a fotografia conjuntural exposta pelo Datafolha ilude, a verdade é que o processo político segue instável e arriscar palpites sobre o futuro é temerário. O momento exige cautela. 
André Henrique – diretor de jornalismo da Rádio Comunicativa FM (Hortolândia). Diretor do Portal Rede Popular. Sociólogo (UNESP) e Jornalista (MTB: 007364/SP)