Quando falamos de saúde da mulher, não é exagero afirmar que um dos exames de rotina mais importantes é o Papanicolau. Ainda assim, o teste realizado para detectar alterações nas células do colo do útero é frequente fonte de dúvidas em muitas pessoas que acabam espalhando informações incorretas sobre ele. Esta desinformação é nociva em muitos aspectos, sobretudo por minimizar a importância do exame que é responsável direto na prevenção de milhares de casos de câncer do colo do útero todos os anos.
Dados recentes do Observatório de Atenção Primária à Saúde da Umane, uma associação sem fins lucrativos que apoia iniciativas de prevenção a doenças, apresentam um número alarmante: aproximadamente 20% das mulheres das capitais brasileiras nunca realizaram o Papanicolau. Estes dados são preocupantes na medida em que esta é a principal e mais eficiente forma de diagnóstico precoce de um dos tipos de câncer que mais atingem brasileiras: de acordo com dados do Ministério da Saúde, só no ano de 2019, o câncer de colo de útero matou 9.500 pessoas em todo o País.
A ginecologista e obstetra credenciada da Paraná Clínicas, empresa do Grupo SulAmérica, Dra. Camila Gonçalves Mendes (CRM-PR: 32.136, RQE 23.736) explica a importância do exame: “O objetivo é detectar precocemente lesões precursoras do câncer de colo de útero. Sabe-se que hoje, excluindo os canceres de pele, ele ocupa a terceira posição no ranking das causas de câncer em mulheres no Brasil, ficando atrás apenas dos tumores de mama e colorretal. No que se refere a índices de mortalidade, ele ocupa o quarto lugar. Ao diagnosticarmos lesões precursoras no colo do útero nós conseguimos, através do tratamento precoce, evitar que elas venham a se tornar um tumor, diminuindo sua incidência e mortalidade”, explica a médica.
Para sua realização, um instrumento chamado espéculo é introduzido na vagina da paciente permitindo que o especialista faça uma inspeção visual do interior do colo do útero. A seguir, é realizada uma pequena escamação da superfície externa e interna do órgão onde são colhidas células que serão levadas a um teste laboratorial. Um leve desconforto e um discreto sangramento podem ocorrer no momento da coleta, mas nada alarmante. Inclusive, estar relaxada e à vontade com o médico responsável pelo teste diminui bastante qualquer possível incômodo.
De acordo com o Ministério da Saúde e a OMS, o exame Papanicolau deve ser feito em mulheres – ou qualquer pessoa com colo de útero – entre 25 e 64 anos que já iniciaram atividade sexual. No início, a frequência recomendada para a realização do exame é anual, mas, após dois exames seguidos no intervalo de pelo menos um ano apresentando resultados normais, o preventivo pode passar a ser feito a cada três anos. No caso de pacientes HIV positivas ou imunossuprimidas, a rotina é diferente: nesses casos, necessitam iniciar o rastreio de forma mais precoce e realizar os exames com um intervalo menor.
Dúvidas e mitos
Apesar de sua importância, ainda existem muitas dúvidas em relação ao Papanicolau. Uma das questões mais comuns é se virgens têm a necessidade de realizar o exame: “Elas não precisam. O Papanicolau tem o intuito de diagnosticar precocemente lesões causadas pelo Papilomavírus Humano, mais conhecido por HPV, que é sexualmente transmissível. Por outro lado, grávidas podem realizar o exame desde que sejam autorizadas por seus obstetras”, afirma a Dra. Camila. Outra dúvida comum é sobre a realização do exame em períodos menstruais: “O exame pode ser coletado em qualquer fase do ciclo menstrual, exceto durante a menstruação. Nada impede que a paciente seja examinada menstruada, mas a coleta precisa ser realizada em outro dia já que a presença de sangue pode atrapalhar a análise do exame”, explica a ginecologista.
Falando dos mitos, a Dra. Camila Gonçalves Mendes relata alguns dos mais comuns: “Muitos acham que o exame é feito para diagnosticar corrimentos, mas ele não tem este objetivo. Para isso existem testes específicos. Sua meta é o rastreio de lesões precursoras de câncer causadas pelo HPV. Há quem ache, também, que mulheres que só se relacionam sexualmente com outras mulheres não precisam fazer o exame, mas este não é o caso: o vírus HPV, principal causador do câncer de colo uterino, ocorre tanto nas relações sexuais entre homens e mulheres quanto em relações de sexo entre duas vaginas. Por isso a importância da realização do exame em mulheres que se relacionam com mulheres. E vale ressaltar que homens transexuais também devem fazer a coleta”, detalha a médica.
Outro erro comum, segundo a ginecologista, é imaginar que a falta de sintomas físicos aparentes justifica a não realização do Papanicolau. Esta é uma conduta bastante perigosa já que o câncer de colo de útero é silencioso e só causa sintomas quando está muito avançado.
Apesar das indicações de que o preventivo seja realizado só a cada três anos no caso de dois exames consecutivos anteriores normais em mulheres acima dos 25, especialistas explicam que é imprescindível uma visita anual à ginecologista para que seja realizada uma avaliação e a mulher possa ser examinada adequadamente.