Nós brasileiros somos sim cordiais, mas o somos sempre com os de cima.
O bom negro, a boa mulher e o bom pobre são sempre bem recebidos desde que obedientes. Isso sem falar dos índios, aí somos novos americanos como os irmãos do norte (extermínio é a palavra de ordem).
O nordestino (sem estirpe) que vem pro sul tem seu espaço, desde que seja porteiro, ou vá pra construção civil ou para a colheita da cana.
No ‘esquema cordial’ o de baixo é bem aceito desde que saiba muito bem seu espaço. Não lhe cabe questionar o status quo.
Gilberto Freire via a cordialidade como herdeiro de fazenda colonial. Quem seria violento contra ele? Qual tipo de violência que ele veria que não seria natural?
O autoritarismo funciona no sentido inverso. Nossa justiça e polícia exprimem com clareza e maestria como funciona o modelo autoritário de cima pra baixo.
Até nos crimes de colarinho branco, os ex-pobres são comidos antes do que o neto rico. E o estado mata pobre e preto, não se importando se é criança ou não.
Para praticamente todos os crimes funciona a lógica do autoritarismo vertical.
A esquerda também tem na violência uma alternativa ao exercício do poder (ou tomada). A indignação contra a violência no Brasil não é assimilada também pela esquerda de esquema tradicional (partidária).
A tal consciência de classe parece não chegar a ter efeito positivo nesse cenário.
Uma consciência geral dos ‘fudidos’ mais a aplicação de valores humanistas importados dos EUA e da Europa tendem a amenizar o quadro, mas nosso cerne autoritário e cordial pouco ou nada mudou em 500 anos.