A genial frase do não menos genial Millôr Fernandes, ???Democracia é quando eu mando em você, ditadura é quando você manda em mim.???, é bastante pertinente neste momento em que, chocado, o mundo se solidariza com os franceses e com jornalistas de todas as partes. A intolerância e a soberba de radicais religiosos acabaram com a vida de pessoas que cometeram o ???pecado??? o compromisso de tentar tornar as nossas vidas mais interessantes.
O problema é que a intolerância à liberdade de expressão não é, obviamente, exclusividade de alguns islâmicos radicais. Muita gente que se diz chocado com essa ação terrorista comunga com análises extremadas e quase tão perversas. Não são poucos, aqueles que se dizem democratas, mas têm profunda dificuldade em lidar com a crítica do opositor.
E o pior é que essa intransigência está intimamente ligada à mesma presunção que afiançou o ato dos dois irmãos argelinos: a certeza de estar do ???lado certo???! A ditadura, tal qual o capeta, se disfarça de democracia para chegar ao poder absoluto. Restrições à liberdade de imprensa e ao direito de opinião não são exclusividade de Stalin, Hitler, Médici, Videla, Castro e outros tiranetes desprezíveis. Estão aí para comprovar a nossa tese os Chávez/Maduro, Kirchner e tantos outros democratas de araque que, a exemplo dos tempos do Macarthismo nos Estados Unidos, fazem do terrorismo ideológico uma forma de opressão sobre aqueles que divergem de seus pontos de vista.
O disfarce pode vir com máscaras diversas como os dos discursos do ???controle social da mídia???, da ???regulação econômica da imprensa??? ou, ainda, do combate à ???grande imprensa golpista???. Na visão caolha destes fundamentalistas, as denúncias de corrupção de seus pares é mentirosa e golpista, mas, em compensação, os deslizes morais dos adversários são maiores e menos divulgados…
Mas, engana-se quem pensa que apenas militantes partidários e ideólogos da intolerância compactuam com tais discursos. Jovens e velhos jornalistas pregam, desavergonhadamente, restrições às liberdades de publicação. Cuidado, proibir e coçar é só começar…
Orestes Camargo Neves