Uma cena de segundos foi suficiente para incendiar as redes sociais: no domingo (25), o presidente da França Macron apareceu sendo empurrado no rosto pela primeira-dama. O gesto foi captado em vídeo e amplamente divulgado por veículos internacionais.
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Para além do burburinho midiático, o episódio acende uma luz sobre um tema pouco discutido: como pequenos gestos, sejam eles positivos ou negativos, dão pistas sobre dinâmicas na relação, tensões emocionais e muito mais.
Independentemente da interpretação do gesto, é fundamental reiterar que qualquer forma de violência física é inaceitável. Mesmo ações aparentemente leves podem ser sinais de dinâmicas problemáticas se ocorrerem repetidamente ou forem utilizadas para controlar ou intimidar o parceiro. A violência, em qualquer grau, não deve ser normalizada.
O corpo fala quando a palavra falta
“A linguagem corporal é um espelho da alma. Ela expressa emoções, traços da personalidade e padrões de comportamento que, por vezes, escapam ao discurso verbal. E, muitas vezes, é mais honesta do que as palavras”, explica a psicóloga Laís Mutuberria, especialista em Neurociência do Comportamento.
Segundo Laís, gestos como toques ríspidos, olhares atravessados, silêncios prolongados, ‘brincadeiras’ que humilham podem indicar desconfortos emocionais que estão sendo evitados. “Não significa, necessariamente, que a relação esteja em crise. Mas são convites para uma escuta mais atenta, se revelam como sinais de que algo precisa ser olhado com cuidado”, afirma.
Macron e as Relações sob os holofotes
O vídeo que gera repercussões podem levar a especulações sobre a natureza do relacionamento, devemos ter cautela em inferências.No caso do casal Macron, o elemento público amplia as tensões. “Quando um dos cônjuges ocupa uma posição de poder, ou mesmo possui uma visibilidade, muitas vezes, pode existir uma sobrecarga emocional acompanhando o casal”, aponta Laís. A exposição constante impõe pressões adicionais ao casal, o que pode potencializar reações emocionais ou gestos impulsivos
A psicóloga chama atenção para o fato de que, culturalmente, espera-se que os casais mantenham uma postura ‘impecável’ em público, o que pode agravar o sofrimento íntimo. “O ideal de casal harmonioso e funcional é irreal. Casais saudáveis também vivem conflitos. O problema é quando há algum tipo de violência nesses conflitos ou ainda, quando sem violência eles se tornam recorrentes, mal resolvidos e começam a aparecer em atos que prejudicam ainda mais a qualidade da relação”
Brincadeira ou sinal de alerta?
Embora o Palácio do Eliseu tenha classificado o ocorrido como um momento de intimidade e cumplicidade entre o casal, muitos se perguntaram: até que ponto um gesto pode ser considerado uma “brincadeira”?
“Não devemos tirar conclusões precipitadas, mas tampouco banalizar o episódio”, alerta a psicóloga.”Conflitos conjugais pedem uma análise cuidadosa: o contexto, a frequência e a intensidade dos comportamentos são fatores-chave. Um gesto isolado, desde que não envolva violência, pode ser irrelevante. Mas padrões repetitivos, mesmo sutis, merecem atenção.”
Segundo ela, atos impulsivos raramente são neutros. “Eles carregam uma carga emocional, muitas vezes inconsciente. O empurrão pode não ter sido intencionalmente agressivo, mas comunica algo, e não deixa de se configurar uma violência física. E o que é comunicado com o corpo merece ser acolhido e compreendido.”
Às vésperas do Dia dos Namorados no Brasil, este incidente serve como um ponto de partida para refletirmos sobre a importância de relações saudáveis e respeitosas. Relacionamentos devem ser baseados em confiança, comunicação aberta e respeito mútuo. É essencial que os parceiros se sintam seguros e valorizados, tanto em ambientes privados quanto públicos.
Em resumo, o episódio envolvendo os Macrons destaca a complexidade das relações humanas e a importância de abordá-las com empatia e compreensão. É uma oportunidade para todos nós examinarmos nossas próprias relações e garantirmos que sejam fundamentadas em respeito e amor genuíno.
Sobre Laís Mutuberria
A psicóloga Laís Mutuberria possui mais de uma década de experiência em psicoterapia clínica e supervisão profissional, atendendo adultos e adolescentes no modelo online. Graduada pela UFU, especializou-se em Análise Transacional (Unat Brasil) e Neurociência do Comportamento (PUCRS), além de acumular formações em Psicologia Positiva, Hipnose Ericksoniana, PNL, TCC e Educação Sistêmica. Sua abordagem integrativa e humanizada combina diferentes técnicas para adaptar os tratamentos às necessidades individuais de cada paciente. Além da prática clínica, ministra cursos, palestras e eventos voltados ao bem-estar e à saúde mental.