CONTEXTO
Os que comemoraram o naufrágio do registro da Rede Sustentabilidade em 2014 agora possuem mais motivos para temê-la. A legenda finalmente conseguiu a aprovação do TSE e nasce numa conjuntura bastante favorável. A aprovação do governo Dilma está ao rés do chão. A presidente paga o preço de sua vitória e herda as conseqüências de erros do primeiro mandato turbinados por problemas estruturais internos e conjunturais externos. Desafio grande para um governo que não governa. O espetáculo de mediocridade exibido diariamente pela classe política agrava o clima de instabilidade e piora a crise econômica. Sem rumo, a oposição atira no peito da presidente, e acerta a nuca das contas públicas, ao renunciar a seu passado de “responsabilidade fiscal” e votar “pautas bombas”. Penas flutuam pelos ares a cada “fogo amigo” estampado nas manchetes alimentadas pela guerra entre caciques tucanos. Esse método nivela a classe política por baixo e afasta o cidadão da política. Eis a belíssima contribuição do maior partido de oposição para conter a despolitização. Os descaminhos do governo Dilma e a Lava Jato estimulam a migração de petistas para o partido de Marina Silva e seus “blue caps”. O petismo promove narrativas que subestimam o potencial da crise e colocam seus críticos como partes de um complô golpista. Essa estratégia produz isolamento e não condiz com um partido que disputa corações e mentes numa sociedade com forças heterogêneas. Como se nota, o quadro político é fértil para a Rede Sustentabilidade a princípio prosperar. E isso é matéria de análise, não de gosto. FUTURO Ainda é cedo para cravar prognósticos decisivos sobre qual será o perfil ideológico da nova legenda em seus primeiros vôos. Há quem diga que ela será o novo PT. Contesto. A Rede Sustentabilidade não parece disposta a ensejar discursos de ruptura, como PT e PSOL fizeram ao longo dos anos, e isso ameaça mais o PSDB. A tendência é o partido se apresentar como síntese do que de melhor fizeram petistas e tucanos e como alternativa para consertar o que está errado, sob os seguintes enfoques: manter e aprofundar conquistas sociais da era Lula ??? sem triscar no pacto social previsto na Constituição de 1988 – e perseguir a estabilidade econômica de FHC, sem romper com o tripé econômico. Essa narrativa dificilmente seduzirá os partidos e movimentos sociais da esquerda tradicional, abrindo possibilidades para o PT continuar a ser sua principal referência. O risco maior é do PSDB perder o posto de partido conciliador de classes e queridinho das classes médias tradicionais, sobretudo paulistas. Aparentemente, no prelúdio, o desafio da Rede sustentabilidade será construir um novo pacto socialdemocrata pós-PT- PSDB, com conciliação de classes e combinando reformas estruturantes com estabilidade econômica, sustentabilidade ambiental e conquistas sociais. Esses princípios estiveram presentes nas campanhas de Marina Silva e são perceptíveis nas falas dos principais mentores intelectuais da ex-ministra. Materializá-los não será moleza. André Henrique, cientista político e diretor de jornalismo da Rádio Comunicativa, Hortolândia. MTB 0077364/SP