A vida acontece nas cidades. Embora as leis maiores, as grandes decisões econômicas e políticas sejam atribuições de âmbito federal ou, em menor escala, dos Estados, é nos municípios que trabalhamos, estudamos, nos locomovemos, nos divertimos, produzimos e temos contato direto com os equipamentos públicos como hospitais, creches e repartições burocráticas. 
Não à toa são os espaços públicos da cidade (a rua, o rio, a praça, a igreja) que marcam a nossa memória e viram referência para toda a vida. No entanto, a cada dia as cidades são mais tomadas pela lógica mercantilista, ou seja, tudo vira um mercado onde especuladores moldam o desenvolvimento de acordo com seus interesses, cidadãos são tratados como clientes – claro que os mais ricos são privé ou personnalité –  e direitos como moradia, mobilidade, saúde, educação e lazer são transformados em produtos. 
  A substituição dos locais de encontro por Shopping Centers, a diminuição de espaços culturais e o fim dos cinemas de rua, o abandono de parques, bibliotecas e museus, além da fracassada política de segurança pública que aprisiona a classe média nos seus condomínios, por um lado, e extermina a juventude da periferia, por outro, são sintomas dessa crise. 
Diante da falta de ideias e novos projetos para a s gestões municipais abre-se caminho para irresponsáveis aventuras administrativas que simulam modernidade e/ou soluções meramente empresariais que prometem austeridade. 
Nenhuma dessas possiblidades responde plenamente aos anseios da população de ter acesso universal a serviços públicos de qualidade, decidir o que deve ser feito com o dinheiro de seus impostos, utilizar as tão disseminadas redes e conexões virtuais para colaborar com a gestão pública e, principalmente, sentir-se representada por instituições políticas mais  transparentes e eficientes.
As cidades não são um produto, tampouco uma empresa. Elas são construções sociais feita, sobretudo de gente, uma imensa massa criativa capaz de movimentá-la e exigir sempre mais. Para reformar de verdade a política é preciso, antes, reinventar nossa relação com as cidades. 
Vinícius Ghizini é historiador, mestrando em História Social pela Unicamp.