A sessão da Câmara de Nova Odessa realizada nesta terça-feira (22) sediou um debate sobre as obras de desassoreamento da lagoa do Parque Ecológico Isidoro Bordon, o Zoológico Municipal. O vereador André Faganello (Podemos) havia agendado o debate e questiona a abertura de uma pequena estrada por sobre a lagoa. Teriam sido depositados mais de 100 caminhões de entulhos para formar a via, contribuindo para assorear ainda mais a lagoa e ocasionar o transbordo do leito em dias de chuva mais forte.

Participaram do debate alguns representantes da Prefeitura: o secretário municipal de Meio Ambiente, Rafael Brocchi; o secretário-adjunto, Diego Tonucci; o secretário de Obras e Serviços Urbanos, Gustavo Valente; o secretário-adjunto, Fábio Henrique; e a diretora de Meio Ambiente, Daniela Fávaro. O autor da convocação afirmou que decidiu pelo debate depois de não obter informações oficiais por meio de requerimentos.

Faganello quer saber sobre a retirada de 15 mil m² de sedimentos. O vereador cita que em dias de chuva mais forte, o leito da lagoa transborda e grande volume de água atravessa pela Rua Juscelino Kubitschek de Oliveira. “É um crime ambiental o que aconteceu no parque”, apontou. De acordo com ele, a Promotoria de Justiça do município acompanha a revitalização do parque, mas não tem ciência da situação da lagoa. O parlamentar também sugeriu a abertura de uma CEI (Comissão Especial de Inquérito) para apurar o assunto.

“No fim das obras a gente ganhou a ‘rodovia’, uma rua feita por mais de 100 caminhões de entulho. E o duro que a gente pagou por isso”, apontou Faganello. Segundo o vereador, a Prefeitura gastou R$ 176 mil e quem teria autorizado a entrada dos caminhões com os entulhos seria a ex-secretária de Obras e Planejamento Urbano, Miriam Cecília Lara Netto. “Tem que identificar e responsabilizar quem cometeu aquele crime”, reforçou Faganello. O vereador menciona que os sedimentos entupiram o ‘ladrão’ da represa, ocasionando alagamentos. Ele ainda afirmou que o prefeito Cláudio Schooder-Leitinho (PSD) não teria ciência da situação.

Em julho de 2024, o Ministério Público cobrou a Prefeitura de Nova Odessa a apresentar um cronograma detalhado das obras no Parque Ecológico, assim como relatórios mensais sobre os serviços realizados e as licenças solicitadas e obtidas. A obra, iniciada para revitalizar o local, se encontrava abandonada desde o final de 2023, e a situação gerou insatisfação nos moradores, que veem o espaço de lazer deteriorado e com acúmulo de entulho.

A retomada das obras do Parque Ecológico foi uma das promessas de campanha do prefeito Leitinho em 2024. Entretanto, desde o início do projeto, a administração enfrentou atrasos e interrupções, que foram inicialmente atribuídos ao período de chuvas. Enquanto a cidade aguarda uma decisão do Ministério Público sobre os desdobramentos das investigações, o parque continua em estado de abandono, sem acesso por parte da população.

Alagamento é citado por vereadores

A vereadora Priscila Peterlevitz (União) lamentou o estado atual. “É uma situação complexa. O local infelizmente está fechado, mas poderia abrir pro pessoal pelo menos caminhar com os filhos”, sugeriu. Marcelo Maito (União) disse que teve o prazer de caminhar no local antigamente. “É uma área essencial para Nova Odessa. Estamos à disposição para cooperar”, ponderou. O colega Lico Rodrigues (PSD) morou nas proximidades e afirmou ser cobrado pelos munícipes. “O que aconteceu foi um descaso”, acrescentou.

Elvis Garcia, o Pelé (PL), citou a drenagem da lagoa em 2023 para iniciar a obra e que houve o esvaziamento com os peixes transferidos para outro local. “Hoje chove e transborda a represa. Vai tudo pra rua ao lado”, reforçou. “O que ia desassorear foi pra dentro da represa. Ficou uma coisa absurda”, frisou. O vereador contou que perdeu a calota de uma das rodas do carro quando passou na rua ao lado, que estava alagada e ocultava um grande buraco. Pelé sugere que a Prefeitura entregue a gestão do local para a iniciativa privada, sem cobrar ingressos.

A vereadora Márcia Rebeschini (União) explicou que acompanha o tema. “Ao invés de desassorear, despejaram mais entulhos ali dentro. Hoje o alagamento é maior”, reiterou. Ela descreveu que o caminho foi construído para que retroescavadeira tivesse como se locomover e chegar até o fundo da represa. E que, após trabalhar por toda a lagoa, ao final a empresa iria ‘recolher’ a via. Rebeschini acredita que até o final do mandato o prefeito vai entregar a obra.

Já Paulinho Bichof (Podemos) não crê no término da benfeitoria. “Com 176 mil reais não faz nem o alicerce de uma casa. Quanto mais o desassoreamento de uma represa”, ressaltou. O parlamentar acredita que a Prefeitura vai fazer algo ‘paliativo’, mas não realizar o desassoreamento da lagoa. A situação, segundo Bichof, está gerando a possibilidade iminente de alagamentos em casas nas proximidades. “Uma hora vai arrastar um motoqueiro, um carro. E quero ver o preço disso”, emendou.

Por fim, o presidente Oséias Jorge (PSD) citou que aposentados e idosos pescavam no local e antes havia lanchonete. “Quem deveria ter dado as ordens lá era o prefeito Leitinho. Não a (ex)secretária. Que pegou a bolsa e foi embora”, atacou. “E quem tem que resolver o problema são os gestores futuros”, finalizou. O chefe do Poder Legislativo assegurou que vai buscar recursos externos para ajudar na realização das obras.

Zoológico será reformado

No dia 13 de março, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) confirmou a liberação de R$ 1 milhão do FID-SP (Fundo Estadual de Defesa dos Interesses Difuso) para reformar o Zoológico Municipal, que funciona no Parque Ecológico Isidoro Bordon, entre o Jardim Europa e o Residencial Mathilde Berzin. O projeto de revitalização da parte da área utilizada como zoológico propriamente dita foi protocolado pela atual gestão municipal através do edital de 2021 do FID-SP, e prevê mais R$ 203.222,23 em contrapartida da própria Prefeitura.

O projeto contemplado agora inclui a reforma das cozinhas dos animais e dos funcionários (atualmente, 10 servidores atuam no zoo), WCs (banheiros) dos visitantes e funcionários, todos os recintos e áreas técnicas, além da implantação de um novo espaço para o Centro de Educação Ambiental. Fechado para visitação desde 2019, o Zoológico Municipal cuida de araras, papagaios, tucanos, jabutis, jacaré do papo amarelo, cachorro do mato, gato do mato, veados, macacos pregos e algumas aves soltas, como pavões e gansos, totalizando cerca de 120 animais.

O secretário de Meio Ambiente admite que o recurso não alcança a totalidade do espaço. “O valor não é suficiente para reformar o parque inteiro. Estamos estudando alternativas, inclusive parceria com a iniciativa privada. E, se for necessário, buscar recursos estaduais e federais”, ponderou Rafael Brocchi. Em breve, segundo o dirigente, haverá comunicado oficial a respeito do assunto, mas não deu maiores detalhes.

A diretora de Meio Ambiente confirmou que a verba do Governo do Estado é exclusiva do parque. “Aquele parque é um filho pra mim”, contou. Daniela Favaro trabalha há 25 anos no local e inclusive fez as plantas e o projeto do Parque Ecológico. “Conheço cada cano que passa dentro do local”, descreveu. “O interesse do prefeito e todos nós é ver o local aberto, com crianças visitando, como era antigamente”, completou.