E a violência tem razão de ser em alguma ocasião? Aparentemente não, é claro, mas certos filmes nos obrigam apensar essa questão em condições extremas.  Embora se trate de uma ficção, ‘Você nunca esteve realmente aqui’, da diretora Lynne Ramsay, tem esse poder e conta com a marcante atuação de Joaquin Phoenix para atingir esse objetivo.

Premiada duplamente (Melhor Ator e Roteiro) no Festival de Cannes, a obra conta a vivência de um veterano do exército na casa dos 40 anos, que vive com a mãe, com sintomas de Alzheimer, e trabalha como assassino profissional. Ao ser contratado por um pai que teve a filha de 11 anos sequestrada por um grupo de traficantes de mulheres, envolve-se numa jornada de sangue sem volta.
A menina é objeto de desejo do governador do Estado e o jogo de influências, em suas mais diversas escalas, é difícil de mensurar. As consequências são as piores possíveis para todos os envolvidos em uma série de eventos que se conectam pela eliminação daqueles que de fato podem fazer alguma coisa contra o poder instituído e daqueles que apenas talvez pudessem ter alguma ação.
Os elos de violência se alinhavam e espalham de modo a deixar o protagonista e a menina juntos ao final, numa cena ambígua, em que dois finais se entrecruzam no sentido de apontar o que poderia ser e o que realmente poderia ter acontecido. Trata-se de algo intercambiável numa sociedade em que a violência parece estar ganhando o primeiro plano.
Oscar D’Ambrosio é jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, graduado em Letras (Português e Inglês) e doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.