Caros leitores, mais triste que a polaridade política na qual nosso país atravessa, é perceber como nossas subjetividades, sentidos construídos na leitura do mundo, estão cada vez mais privatizadas e cooptadas pelos interesses das grandes oligarquias políticas e econômicas mundiais. Isso não é teoria da conspiração e sim a formatação geopolítica de poder e imperialismo internacional.
As pessoas acostumadas a não participarem da vida pública, pois não acompanham os trabalhos nas casas legislativas, nunca visitam as câmaras e assembléias, não interferem na realidade local, nunca são propositivas diante dos conflitos cotidianos que se registram na cidade, eximem-se de suas responsabilidades cidadãs, enfim, são alienadas em suas subjetividades privatizadas. Acreditam apenas em suas percepções pessoais, baseadas em suas vidas privatizadas, fechadas em si mesmas e em tudo que cerca seu reduzido campo de observação e consciência. Não há espaço para uma visão holística, da totalidade.
Nesse sentido, são facilmente cooptadas pelas grandes instituições manipuladoras da opinião pública, como as grandes mídias, também oligarquias que historicamente estão ligadas ao terrorismo e violência de Estado. Essa massa absorve uma consciência política forjada, um raciocínio tão limitado que não compreende a complexidade da vida em sociedade. Complexo porque são vários elementos e variáveis implícitos e correlacionados, ora em choque, ora alinhados, que qualquer resposta rápida e objetiva para o cenário político é um reducionismo grotesco.
Como podemos acreditar num discurso mentiroso de anticorrupção? O que surpreende é a falta de coerência e sensatez, haja vista que os argumentos não se sustentam contextualizados na história e na vida prática coletiva, tal como nos inúmeros casos de sonegação, subornos e desvios de verbas públicas, como temos assistido em nossa cidade.
Sugerir que os problemas nacionais são culpa de um partido ou alguns parlamentares é ingenuidade ou perversidade misturada à irresponsabilidade ética, quando num sistema democrático há diversas coligações, ações intersetoriais e perenidade entre sociedade civil e poder público. Mais que isso, o que choca é a renúncia coletiva em cuidar do público e bem comum cotidianamente, não apenas em manifestações performáticas.
Posto isso, prestemos atenção: esse golpe midiático é uma afronta à soberania nacional, e o pivô dessa convulsão social não é a operação Lava-Jato em si, mas o interesse internacional no Pré-Sal, conforme nos lembra a professora e filósofa Marilena Chauí. Olhemos as inferências no Oriente Médio nos últimos anos ao invés de nos focarmos em nossas subjetividades privatizadas.
Fábio Ortolano é doutorando em Psicologia Social pela USP e professor no SENAC SP