Não se via desde 1989 uma eleição presidencial tão dividida ideologicamente como a que se viu ano passado. Como complemento: a batalha ideológica continua e com ares de terceiro turno interminável.
Os agentes políticos fazem cálculos, de curto e longo prazo. O clima esquenta. O noticiário se movimenta ao sabor dos fatos e interesses. A disputa por corações e mentes torna a guerra de narrativas central e deixa rastros de ódio e incertezas. Não há espaço para cochilo. Tudo é capitalizado politicamente. Até um espirro. Não é trivial a publicação do vídeo com Lula na academia exercitando-se e comentando como superou dores e limitações físicas. Não existem gestos públicos espontâneos em política. Políticos agem com base em cálculos. O vídeo visa humanizar Lula, sim, mas, acima de tudo, é um recado para seus adversários de que o petista está na área e se derrubá-lo é pênalti. A oposição trata Dilma como cadáver adiado e concentra ataques em Lula. A mídia tradicional, braço da oposição, não se envergonha de criar diariamente factóides contra o ex-presidente. A insistência evidencia o plano de abatê-lo o quanto antes. Os desacertos econômicos e os erros na condução política deram gás à direita e a mesma avança em várias frentes. A prensa adversária expõe o petismo com denúncias escolhidas a dedo para constrangê-lo. Agendas conservadoras estouram no Congresso como pipocas. Panelaços restritos e protestos casuais ganham destaque na TV Globo porque contrários ao PT e ao governo federal. “?? a política, estúpido”, diria o outro. Enfraquecer o governo de modo a extrair dele vantagens e acelerar pautas conservadoras no Parlamento e na economia. O governo Dilma segue com as plaquetas baixas e trabalha basicamente para evitar hemorragias. A relação crispada, com a base e o PT, colabora para a perda de fôlego programático. As esquerdas compensam as limitações no flanco institucional levando a disputa para as ruas. Foi assim que os sindicatos provocaram recuos na PEC das terceirizações. E deste modo Beto Richa foi triturado no Paraná. O pacote de maldades do governador contra o funcionalismo e o banho de sangue promovido por parte de sua PM contra os professores inflaram as sublevações e esmagaram Richa politicamente. O tucano está no limbo. Geraldo Alckmin segue protegido pela bolha do conservadorismo. Por essas plagas, a grande mídia não desgasta o nome do governador quando os fatos mostram que mais da metade dos casos de dengue ocorrem em São Paulo. As reais dimensões da crise hídrica não são mencionadas e a greve dos professores ignorada pelos jornalões. Até quando vão segurar a panela de pressão? A luta de classes e o modelo de estado que se quer para administrá-la são as questões de fundo das disputas. No ringue estão movimentos sociais, conglomerados empresariais; interesses internacionais e nacionais; populares e elitistas. A conjuntura pastosa turva a visão dos atores políticos. ?? difícil fazer previsões. Porém, manter-se sedentário politicamente é pior. Lula sabe disso e seu vídeo foi um recado.
Sem mais para o momento.