Em uma sociedade em que cada vez mais todos querem falar e poucos parecem querer ouvir, o filme “Middle Man”, de Ned Crowley, é um universo de ricos pontos de partida para pensar, repensar e “tripensar” por que (compensar frustações? reconhecimento?) e por quais motivos (dinheiro? status?) as pessoas buscam o sucesso ??? e são capazes de tudo para isso.

Na obra, Jim O’Heir interpreta brilhantemente uma pessoa comum que, amante da comédia, após a morte da mãe, resolve pegar a estrada e investir no sonho de ser comediante em Las Vegas. Tudo se complica quando dá carona a Hitch (ironicamente, “pegar carona”, em inglês), um diabólico Fausto, a quem o protagonista vende a alma.
Assim são realizados diversos assassinatos. O fascinante é que o comediante fracassa quando sobre ao palco com suas piadas antigas, mas conquista o público cada vez que conta como participou de diversas mortes e tentou esconder os corpos, inclusive serrando partes deles. Fica o ensinamento de que quanto mais verdadeiro o material a ser trabalhado pelo artista, melhor.
As reviravoltas do roteiro são completadas com as camisas sujas de sangue do comediante, o uso dos clássicos óculos e sobrancelhas de Groucho Marx e as referências Charles Chaplin, principalmente à sua confusa vida sexual.  Embora tenha a comédia como tema, o filme é uma tragédia da solidão e da busca inglória pelo sucesso de quem não tem talento para merecê-lo. Simplesmente brilhante!
Oscar D’Ambrosio é jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, graduado em Letras (Português e Inglês) e doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.