As mudanças climáticas tem ocasionado nas Bacias PCJ eventos hidrológicos extremos, o que impacta diretamente na disponibilidade hídrica e no planejamento de ações para mitigar essas ocorrências. Exemplo disso, pode ser conferido no mais recente Boletim do Consórcio PCJ acerca da disponibilidade hídrica, no qual aponta que o mês de janeiro de 2022, apresentou chuvas de 38,8% acima da média em toda a região, no entanto, tanta chuva não foi capaz de alterar as vazões médias dos principais rios da bacia, que ficaram, em alguns pontos de medição, até 40% abaixo do esperado para o mês. É inevitável que surja a indagação: Como explicar à população que tanta chuva não alterou a segurança hídrica para a estiagem? A resposta está em diversos fatores além da visualização da água que corre nos leitos dos rios.
As Bacias PCJ vem enfrentando desde os últimos 5 anos diminuição na média anual de precipitações o que reflete, inevitavelmente, na recarga do lençol freático que irá abastecer o volume de água que passa pelos cursos d’água. Em 2021, a região só não enfrentou nova crise hídrica, graças aos investimentos estruturais que foram feitos, como inaugurações de reservatórios municipais e obras de aumento da segurança hídrica, como a que interligou as represas de Igaratá ao Sistema Cantareira e permitiu mais aporte de água ao sistema.
Como o último ano foi de muita escassez, as chuvas que ocorreram nesse início de verão, ainda que acima da média, não estão sendo capazes de recarregar o lençol freático e, consequentemente, ampliar as vazões médias dos rios. Rios com menos água circulando em seus leitos, representa menos água armazenada nos reservatórios de água, como o Cantareira.
No Boletim, o Consórcio PCJ alerta: “o ideal para que haja a recuperação dos mananciais é que ocorram eventos de chuvas em um intervalo de tempo capaz de possibilitar a infiltração no solo e, que não se transforme em escoamento superficial, pois é o lençol freático que proporciona a regularização dos rios em períodos secos”.
Por exemplo, as chuvas na região do Cantareira no mês de janeiro ficaram 22,1% acima da média histórica, no entanto, o volume de água armazenada encerrou o mesmo período em 33,17%, quando o esperado para o mês é que os reservatórios estivessem em 60%. Isso tudo se deve a baixa vazão média que está chegando ao sistema, chamada de vazão de afluência, que tem se mantido abaixo das médias históricas.
O Sistema Cantareira recuperou apenas pouco mais de 8% da sua reservação no mês de janeiro e o esperado, para que ele possa ter uma reserva estratégica suficiente para atender às Bacias PCJ e a Grande São Paulo, durante a estiagem, é que esteja acima dos 60%, já mencionados.
Tudo isso se deve aos impactos gerados pelas mudanças climáticas, que na nossa região, gera essas discrepâncias climatológicas, com fortes chuvas em curtos períodos de tempo, que causam alagamentos e transtornos à população, mas não impacta na sustentabilidade hídrica.
O Consórcio PCJ enfatizou novamente em seu boletim mensal a necessidade de persistirem as campanhas de sensibilização da comunidade para a economia de água, mesmo que as fortes chuvas verificadas no período passem a falsa sensação de tranquilidade. O documento aponta que as chuvas deverão permanecer dentro ou acima da média entre os meses de fevereiro e abril, porém, sem garantias que serão suficientes para criar uma reserva que permita a região atravessar a estiagem sem impactos à população.
A entidade segue indicando aos municípios e empresas que preparem planos de contingenciamento para momentos de escassez severa nos próximos meses e comecem a prever alternativas ao abastecimento, em caso de agravamento da situação climatológica a partir do mês de maio.
Recomenda-se que durante a incidência da próxima estiagem (período seco), os municípios e concessionárias de saneamento estejam atentos e preparadas para executar ações de desassoreamento dos cursos d’água, principalmente de reservatórios municipais que se encontram assoreados, garantindo que nas próximas chuvas, exista maior capacidade de armazenamento de água.
Frente a ocorrência de chuvas de grande intensidade em intervalos de tempo de curta duração, que provocam inundações e destruição, a equipe técnica do Consórcio PCJ passou a promover diálogos e orientações com os associados à entidade sobre a extrema necessidade da aplicação da “Resolução nº 153/2013 do Conselho Nacional dos Recursos Hídricos (CNRH)” que “estabelece critérios e diretrizes para a implantação de Recarga Artificial de aquíferos no território brasileiro”, somada à outras alternativas como, recargas em poços profundos, bacias de retenção , piscinões ecológicos, curvas em nível, entre outras). Recomenda-se que essas obras se iniciem a partir do final das chuvas de verão, no início de abril.