Mensagens de texto pipocam no WhatsApp disseminando o anúncio que aterroriza. “Ninguém pode sair de casa após as 18h.” Com medo, a população obedece.
Os “toques de recolher” se tornaram diários na região de Vitória, capital do Espírito Santo, desde o último sábado, quando policiais militares iniciaram uma greve que não tem prazo para terminar. “Quem descumprir a ordem e for para a rua vai morrer”, disse uma moradora que recebeu esse recado e pediu para não ser identificada.
Sem acordo, greve no Espírito Santo provoca escalada de medo e ganha contorno políticoO reflexo dessa crise de segurança está nas ruas. Nas contas dos grevistas, já ocorreram mais de cem mortes desde o início da greve. Tudo isso aliado a saques a lojas, furtos e assaltos. Moradores ouvidos pela BBC Brasil afirmaram que passaram a deixar celulares, relógios e joias em casa ao sair.
Minha mulher está desde segunda-feira sem ir ao trabalho. Hoje, eu saí de carro e vi corpos na rua, acidentes… Não dá para circular mais de 5 km sem ver algo absurdo”, disse o técnico de operações em petróleo Luiz Claudio Caldas Gama.Como a maior parte do comércio está fechado, moradores das cidades que ficam na região metropolitana passaram a estocar alimentos em casa por temer uma crise de abastecimento.Como protesto iniciado por oito mulheres paralisa a PM do Espírito SantoO corre-corre aos supermercados esvaziou prateleiras de diversos produtos, como carne, pão de forma e biscoitos. Algumas unidades registraram filas para entrar que dobravam o quarteirão e demoravam até duas horas. Falta pão nas padarias, e as frutas e verduras vendidas nos mercados estão estragadas – as novas não chegam.
Tudo é feito no improviso. Como nem todos os funcionários conseguem chegar ao trabalho em virtude da paralisação dos ônibus, quem vai trabalhar precisa fazer de tudo um pouco. Há açougueiros pesando verduras, operadoras de caixa fazendo reposição de mercadorias e gerentes organizando filas e controlando o fluxo de pessoas nas já sobrecarregadas lojas. No meio disso tudo, há relatos de que algumas redes aumentaram o preço das mercadorias de um dia para outro.
Sem negociação – Os grevistas reivindicam um aumento salarial de 100% – outros falam em 43% – para repor as perdas acumuladas nos últimos anos. Há três anos, eles não recebem nenhum aumento na folha de pagamento e há sete não têm aumento real (acima da inflação).O governo afirma que passa por uma crise econômica e não tem condições de pagar salários mais altos. Além disso, o Estado afirma que só vai negociar com os grevistas se eles voltarem ao trabalho.