As disputas de opinião a respeito das reformas propostas recentemente pelo governo Temer mostram uma característica interessante: a superação do FlaXFlu entre vermelho e verde amarelo, mortadelas e coxinhas, esquerda e direita, que se viu na questão do impeachment.. Para além das universidades e escolas, bolsões de resistência até então, agora igrejas evangélicas, movimentos ligados à igreja católica, pilotos e comissários, enfim, um amplo conjunto de categorias as quais há tempos não se alcançava, estão espontaneamente estão aderindo à greve. ?? uma luta do povo brasileiro. 

Digo isso não à toa, mas para denunciar o total descompasso do Congresso Nacional com sua função que é a de ecoar a voz popular. Temos uma instituição fora de controle, voz de si mesma, surda aos clamores de toda uma nação. Consequentemente, estamos diante de um atraso civilizacional que tem como uma de suas faces a reforma trabalhista aprovada na terça-feira. Ela que, por exemplo, entre outras aberrações, traz como um de seus pontos a permissão que grávidas possam trabalhar em locais insalubres, desde que com atestado médico. Isso está muito longe de uma “modernização”, mas, trata-se de uma institucionalização da precarização do trabalho! Numa noite, fizemos uma viagem no tempo rumo ao século XVI. 

Num país de tantos despossuídos, temos um grande exército de mão-de-obra que por sobrevivência (e não opção) se sujeita a trabalhar em condições degradantes. Cabe então ao estado agir para evitar que trabalhadores sejam tratados de forma desumana. Só que para isso, é necessário amparo legal, o qual está sendo destroçado. 

Mas, paira uma esperança! A Greve Geral do dia 28 “pegou”. Vimos uma unidade como há muito tempo não acontecia de dez centrais sindicais chamando a paralisação. Isso é histórico! No mais, não poderia deixar de destacar a luta estudantil, que mais uma se faz intensa. Já que a “deforma” da previdência visa estrangular os direitos dessa geração presente. Estão querendo sabotar o Brasil do futuro, que será herdado pelos jovens. A resposta está sendo à altura, em milhares de centros estudantis do país.

Por fim, é preciso perguntar: terão os deputados coragem de virar as cotas para o povo de maneira tão flagrante? Se sim, acham que isso não trará consequências? Achariam eles que centenas de parlamentares são mais poderosos do que milhões e milhões de brasileiros, hoje, unidos contra o retrocesso? 
*Cris Grazina é vice-presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes) no Estado de São Paulo.