A dificuldade de um colega com deficiência auditiva em compreender a Língua Portuguesa escrita foi o ponto de partida para que dois alunos da Etec (Escola Técnica) de Nova Odessa desenvolvessem um projeto inédito que pode mudar a vida de pessoas com dificuldades para ouvir. Eles criaram um jogo que auxilia no entendimento da conjugação correta, algo difícil para quem tem problemas auditivos devido à complexidade do idioma português. A iniciativa foi selecionada e será apresentada durante a 9ª Feteps, Feira Tecnológica promovida pelo Centro Paula Souza, que acontece em outubro na Capital Paulista.
Denominado “Comunicação sem Falhas”, o projeto foi criado pelos jovens Rafaela Cristina Figueiredo e Higor Bevilaqua, de 16 anos, estudantes do 2º ano do curso de Administração da Etec, e tem o objetivo facilitar o aprendizado da Língua Portuguesa escrita por crianças com deficiência auditiva, permitindo maior interação nas relações sociais e oportunidades de acesso ao conhecimento de forma lúdica.
“O processo normal de alfabetização da criança é ouvir, entender e falar e, no caso de deficientes auditivos, este processo é interrompido. Como as crianças geralmente são alfabetizadas diretamente através da linguagem de sinais, elas têm grande dificuldade em compreender alguns verbos e estruturas da Língua Portuguesa”, afirmou Rafaela. “Com o jogo, elas podem compreender melhor esta estrutura, utilizando de maneira correta artigos, conjunções e verbos”, continuou.
Através do “Comunicação sem Falhas”, os dois alunos desenvolveram o “Conjogando”, um jogo pedagógico que oferece opções de conjugação no presente, passado e futuro e ensina também concordância. “O objetivo é auxiliar o aluno a formar a frase no tempo correto, conjugando corretamente não só o verbo, mas também as preposições e artigos”, explicou o estudante. “A criança aprende brincando, o que facilita neste processo”, continuou Higor.
O projeto dos alunos de Nova Odessa foi selecionado pelo Centro Paula Souza e concorrerá na Feteps na categoria Saúde e Segurança. Os melhores colocados apresentarão o projeto na MOP (Mostra Paulista de Ciências e Engenharias) e Febrace (Feira Brasileira de Ciências e Engenharia).
“Como orientadora, acredito na importância deste projeto em nossa escola, tanto por seu cunho social como pelo fato dos alunos terem a possibilidade de enriquecerem seu conhecimento, na área acadêmica e pessoal, aprendendo mais sobre essa ou outra forma de linguagem e sua importância”, afirmou a professora de Biologia na Etec de Nova Odessa, Natália Yumi Mizukami.
Presidente da Apadano (Associação dos Pais e Amigos dos Deficientes Auditivos de Nova Odessa), Daniel Carlos Tavares acompanhou os testes realizados pelos alunos em algumas crianças com deficiência atendidas pela entidade. “?? um projeto muito legal e que só agrega ao nosso trabalho”, disse. “Vimos que as crianças receberam muito bem o jogo e espero que possa ser produzido para que as famílias possam ter esta ferramenta”, continuou.
A FEIRA – A 9ª Feteps acontece entre 20 e 23 de outubro em São Paulo. Na ocasião, serão apresentados projetos de alunos de Etecs e Fatecs (Faculdades de Tecnologia) de todo País. A feira conta ainda com apresentação de iniciativas internacionais e voltadas para ações sociais.
A feira teve 1.085 trabalhos inscritos e 203, entre eles o dos alunos de Nova Odessa, foram selecionados. Esse número inclui 142 projetos das Etecs e 50 das Faculdades de Tecnologia, 8 de outros países (Argentina, Chile, Peru, México e Polônia) e mais 3 de outros Estados (Amazonas e Bahia).
CONTINUIDADE – Enquanto se preparam para participar da Feteps, os alunos buscam também parcerias para desenvolver o jogo para comercialização. “Estamos em busca de empresas ou entidades que possam nos ajudar”, disse.
E quem pensa que eles estão satisfeitos com a conquista e que pararão por aqui está completamente enganado. Os alunos já estudam ampliar o jogo, desenvolvendo opções para que possam auxiliar também crianças em outras matérias, como Matemática, por exemplo.