A formação de professores no curso de letras

Brasil,

A formação de professores no curso de letras

2 de maio de 2017

Embora seja posto em segundo plano, ou mesmo esquecido, o primeiro objetivo da licenciatura em Letras é formar o professor de Português para a educação básica. Ao não valorizar devidamente esse objetivo, o Curso deixa de contribuir para a solução de um grave problema educacional. Faltam professores competentes em todas as áreas, pois a baixa remuneração não atrai os jovens para a profissão. E é justamente o ensino de língua e literatura que mais se ressente da carência desses profissionais. Afinal, saber ler e escrever é a base para qualquer profissão e para o pleno exercício da cidadania.

Por isso, é preciso discutir o modelo de profissional formado pelas universidades públicas, que podem e devem influenciar as escolas privadas, responsáveis pela diplomação da grande maioria dos professores de Língua Portuguesa. No caso do Curso de Letras da UNESP de Assis, observa-se, nesse sentido, um lamentável retrocesso. Após vários anos de discussão, foi implantado em 2005 um currículo que tentava oferecer uma formação compatível com o perfil atual do aluno do Curso. Sua grade destinava mais espaço para práticas de redação e leitura do que para as disciplinas tradicionais, cuja importância para um curso de Letras é indiscutível, mas que não contribuem diretamente para a formação do professor de Português.
Um dos pontos relevantes desse currículo era que, após um período de dois anos de formação básica, ele permitia ao aluno optar por diferentes módulos, conforme seu interesse se voltasse para língua portuguesa, literatura ou línguas estrangeiras. Era uma experiência sujeita a aperfeiçoamentos, que tinha o mérito de comportar uma discussão permanente dos objetivos do curso e do perfil do profissional almejado. A proposta, porém, foi atropelada pelas alterações curriculares decorrentes da integração dos currículos de cursos de mesma natureza na UNESP, num processo que representou uma volta aos modelos anteriores, fechando-se a iniciativas mais criativas.
Como se sabe, a crise das licenciaturas alterou sensivelmente as características do aluno de Letras. ?? cada vez mais comum encontrar no Curso alunos com pouco repertório de leitura, por exemplo. O que fazer diante disso? Num curso voltado para o especialista em Letras (redator, crítico literário, escritor etc.), a tendência seria afastá-los do curso por meio de avaliações rigorosas. Já num curso comprometido com a preparação de bons professores de Português, a solução certamente deve ser outra.
Nesse sentido, a experiência curricular abandonada procurava permitir aos alunos que se dedicassem a estudos mais adequados ao seu potencial. ?? evidente que nenhuma das opções oferecidas abolia a necessidade da leitura. Mas, entre a leitura por erudição e a leitura como competência profissional, há alternativas possíveis, que podem ser buscadas para se atender à necessidade de se formar professor para a escola básica.
?? estranho que a UNESP tenha realizado em 2014 um congresso na área de Educação com o slogan “Por uma revolução no campo da formação de professores” e não tenha proporcionado condições para experiências inovadoras nos cursos de licenciatura. Assim como é contraditório que padronize seus cursos de licenciatura visando a uma suposta mobilidade interna de alunos e, ao mesmo tempo, estimule o intercâmbio internacional com universidades que oferecem cursos dos mais variados perfis.
A Universidade deveria pensar em estratégias para enfrentar esses problemas de modo amplo, instituindo fóruns permanentes de discussão acima das esferas administrativas. Poderia criar uma espécie de Plano Emergencial de Formação de Docentes nos cursos de licenciatura que agregasse lideranças acadêmicas com experiência em pesquisas e disposição para formular propostas que atendam às necessidades atuais de formação de bons professores. A UNESP criou, em 2015, uma Comissão Permanente dos Cursos de Licenciatura, que, entretanto, não parece ter como atribuição discutir efetivamente a formação de professores na Universidade. Pelo menos isso não fica claro quando se lê, na Resolução 395-2015, o Artigo 2º, que estabelece as finalidades da referida comissão.

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A formação de professores no curso de letras

2 de maio de 2017

Embora seja posto em segundo plano, ou mesmo esquecido, o primeiro objetivo da licenciatura em Letras é formar o professor de Português para a educação básica. Ao não valorizar devidamente esse objetivo, o Curso deixa de contribuir para a solução de um grave problema educacional. Faltam professores competentes em todas as áreas, pois a baixa remuneração não atrai os jovens para a profissão. E é justamente o ensino de língua e literatura que mais se ressente da carência desses profissionais. Afinal, saber ler e escrever é a base para qualquer profissão e para o pleno exercício da cidadania.

Por isso, é preciso discutir o modelo de profissional formado pelas universidades públicas, que podem e devem influenciar as escolas privadas, responsáveis pela diplomação da grande maioria dos professores de Língua Portuguesa. No caso do Curso de Letras da UNESP de Assis, observa-se, nesse sentido, um lamentável retrocesso. Após vários anos de discussão, foi implantado em 2005 um currículo que tentava oferecer uma formação compatível com o perfil atual do aluno do Curso. Sua grade destinava mais espaço para práticas de redação e leitura do que para as disciplinas tradicionais, cuja importância para um curso de Letras é indiscutível, mas que não contribuem diretamente para a formação do professor de Português.
Um dos pontos relevantes desse currículo era que, após um período de dois anos de formação básica, ele permitia ao aluno optar por diferentes módulos, conforme seu interesse se voltasse para língua portuguesa, literatura ou línguas estrangeiras. Era uma experiência sujeita a aperfeiçoamentos, que tinha o mérito de comportar uma discussão permanente dos objetivos do curso e do perfil do profissional almejado. A proposta, porém, foi atropelada pelas alterações curriculares decorrentes da integração dos currículos de cursos de mesma natureza na UNESP, num processo que representou uma volta aos modelos anteriores, fechando-se a iniciativas mais criativas.
Como se sabe, a crise das licenciaturas alterou sensivelmente as características do aluno de Letras. ?? cada vez mais comum encontrar no Curso alunos com pouco repertório de leitura, por exemplo. O que fazer diante disso? Num curso voltado para o especialista em Letras (redator, crítico literário, escritor etc.), a tendência seria afastá-los do curso por meio de avaliações rigorosas. Já num curso comprometido com a preparação de bons professores de Português, a solução certamente deve ser outra.
Nesse sentido, a experiência curricular abandonada procurava permitir aos alunos que se dedicassem a estudos mais adequados ao seu potencial. ?? evidente que nenhuma das opções oferecidas abolia a necessidade da leitura. Mas, entre a leitura por erudição e a leitura como competência profissional, há alternativas possíveis, que podem ser buscadas para se atender à necessidade de se formar professor para a escola básica.
?? estranho que a UNESP tenha realizado em 2014 um congresso na área de Educação com o slogan “Por uma revolução no campo da formação de professores” e não tenha proporcionado condições para experiências inovadoras nos cursos de licenciatura. Assim como é contraditório que padronize seus cursos de licenciatura visando a uma suposta mobilidade interna de alunos e, ao mesmo tempo, estimule o intercâmbio internacional com universidades que oferecem cursos dos mais variados perfis.
A Universidade deveria pensar em estratégias para enfrentar esses problemas de modo amplo, instituindo fóruns permanentes de discussão acima das esferas administrativas. Poderia criar uma espécie de Plano Emergencial de Formação de Docentes nos cursos de licenciatura que agregasse lideranças acadêmicas com experiência em pesquisas e disposição para formular propostas que atendam às necessidades atuais de formação de bons professores. A UNESP criou, em 2015, uma Comissão Permanente dos Cursos de Licenciatura, que, entretanto, não parece ter como atribuição discutir efetivamente a formação de professores na Universidade. Pelo menos isso não fica claro quando se lê, na Resolução 395-2015, o Artigo 2º, que estabelece as finalidades da referida comissão.

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