O Brasil continua sendo um dos países com maior desigualdade no mundo. O PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio), realizado pelo IBGE e que mede a concentração de renda no país, indica que 10% dos brasileiros possuem quase metade da renda nacional.
Contudo, doar para o outro acaba sendo mais comum entre as pessoas menos favorecidas, o que não é surpresa, considerando que esse tipo de ajuda tende a ser algo já internalizado na vida dessas pessoas.
Situações de emergência e desastre naturais, como rompimento de barragens, inundações, incêndios e terremotos, mobilizam um número maior e concentrado de doações, mas suprem momentaneamente as necessidades de quem precisa de suporte a longo prazo.
Calendário solidário
Um dos fatores que explicam, pelo menos em parte, a contribuição ???reduzida??? dos mais ricos, é a existência de um certo cronograma.
Muitos fazem doações programadas a instituições específicas ??? algo incentivado, principalmente, pela dedução no Imposto de Renda ??? ou contribuem esporadicamente com eventos de caridade.
Claro que existe uma intenção válida por trás, mas essas doações acabam sendo sistematicamente programadas, direcionadas sempre para as mesmas causas e servindo, muitas vezes, para uma certa manutenção do status de seus contribuintes.
Em datas especiais, como Natal, Dia das Crianças e épocas como o inverno, é comum a ocorrência de um volume maior de doações, também associado a uma necessidade de ajudar o outro, mas sem muito envolvimento.
Empatia
Entre os mais pobres, considerando a dura realidade de quem sobrevive com menos da metade de um salário mínimo por mês, é mais fácil praticar a solidariedade.
Quem já recebeu algum tipo de ajuda ??? doação de alimentos, mutirão de limpeza após desastres naturais, ajuda financeira, etc. ??? entende a importância e acaba se mobilizando para repetir o ato com quem necessita.
Esse senso coletivo está mais presente entre as pessoas pobres pelo fato de que elas têm pouco ou nenhum amparo de políticas públicas. Ou seja, o sentimento de identificação com a situação alheia estimula a união em prol do bem-estar do outro.
Em comunidades, a proximidade entre as pessoas também estimula o compartilhamento, criando uma rotina de cuidado coletivo entre os moradores.
Real alcance
Embora ajudando de formas diferentes, o fato é que o brasileiro é sim generoso.
Como parte de certos compromissos sociais, os mais ricos tendem a estar bastante relacionados às instituições e fundações beneficentes, mantendo o calendário já citado. Além disso, muitos deles são compromissados à sua religião e instituições religiosas, partindo daí a obrigação da realização de ações de caridade e de auxílio social.
A diferença é que eles não se relacionam diretamente com as pessoas que recebem essas doações, e, na maior parte das vezes, escolhem causas abrangentes, como crianças órfãs, pessoas debilitadas por dependência química, entre outras.
Entre os mais pobres, existe um contato direto entre as pessoas que doam e as que recebem as doações. Quem não pode contribuir financeiramente, se voluntaria para distribuir roupas, alimentos, participa de mutirões de limpeza e construção, além de outras ações diretas.
Um tipo de ajuda não invalida a outra. Mas fica evidente que estar mais próximo da experiência de quem está em necessidade amplia o potencial de ajuda, nem que seja pelo apoio imaterial.