da DW Brasil. Em meio a recordes diários de óbitos, o Brasil fechou o mês de março como o mais mortal da pandemia de covid-19, registrando mais de 66 mil mortes apenas nos últimos 31 dias. O número é maior do que a população de 5.067 dos 5.570 municípios do país. O total de óbitos registrados em março é mais do que o dobro do contabilizado em julho do ano passado (mais de 32 mil mortes), que até o momento era o mês mais mortal da pandemia no país.

Nesta quarta-feira (31/03), o Brasil registrou o segundo dia consecutivo de recorde de mortes por covid-19. Em apenas 24 horas, foram contabilizadas 3.869 mortes associadas à doença, segundo dados divulgados pelo Conselho Nacional de Secretários da Saúde (Conass).

Também foram identificados 90.638 novos casos da doença. Com isso, o total oficial de infecções no país subiu para 12.748.747, enquanto os óbitos chegam a 321.515.

A média móvel de mortes dos últimos sete dias também registra aumento contínuo. Na quarta-feira, ela chegou a 2.971 por dia, a pior taxa pelo sexto dia consecutivo, segundo dados do consórcio de imprensa. Pela primeira vez, mais de 20 mil óbitos pela doença ocorreram em apenas uma semana. Há 15 dias, a média está acima de 2 mil mortes por dia.

Em 24 de março, o Brasil superou a marca de 300 mil mortes. A trágica marca foi mais uma indicação da aceleração da pandemia no país. Ela foi alcançada apenas 75 dias após o registro dos 200 mil óbitos. Em comparação, o país levou 148 dias para registrar 100 mil mortos e depois mais 152 dias para chegar aos 200 mil mortos.

Transmissão avança pelo país

O Brasil enfrenta o pior momento da pandemia. Além da aumento no número de mortes, há uma explosão na transmissão do coronavírus no país. A média móvel de casos dos últimos sete dias está em 75.154 por dia.

Especialistas já previam que o mês de março seria trágico. Em entrevista à DW, a pesquisadora Margareth Dalcolmo, da Fundação Oswaldo Cruz, afirmou que o Brasil enfrentava taxas de transmissão muito altas e curvas de mortalidade em ascensão e pediu que a sociedade se conscientizassem da necessidade do isolamento social e medidas sanitárias.

O avanço descontrolado da pandemia no país se tornou terreno fértil para mutações do coronavírus. A variante P1, originária de Manaus, acabou se espalhando por vários estados. Na cidade de São Paulo, ela já é responsável por 64% dos casos, e no Rio de Janeiro por 84%.

Segundo o virologista alemão Christian Drosten, com a movimentação livre da população e sem medidas de intervenção, como o uso obrigatório de máscara, a variante encontrou as “portas abertas” para uma segunda onda rasante.

“Porque a política não toma medidas de prevenção ou porque as estruturas do país são tais que não é possível tomá-las devido à pobreza, então, ocorrem tais fenômenos como uma segunda onda da pandemia tão terrível como a que estamos vivendo no Brasil neste momento”, afirmou Drosten na terça-feira, em seu podcast Coronavirus Update na rádio Norddeutscher Rundfunk.

A explosão no número de infecções levou ainda ao maior colapso sanitário e hospitalar da história do país. Em diversos estados, as UTIs ficaram lotadas, não somente no sistema público, e pacientes morreram em filas de espera por um leito.