São Paulo, abril de 2021 – Atualmente, existem diversos medicamentos para tratar pessoas que têm epilepsia, mas nos últimos anos uma substância vem chamando a atenção da sociedade e da mídia: o canabidiol. O tema é rodeado de fake news e é por este motivo que a Associação Brasileira de Epilepsia tem trabalhado para a divulgação de informações corretas sobre o assunto, deixando claro que as comprovações científicas e as orientações médicas são os direcionamentos válidos. 

O uso

Apesar das discussões sobre o uso do canabidiol para o tratamento da doença serem antigas, somente com estudos publicados a partir de 2017 que foi comprovada a eficácia da substância de alta pureza e com grau farmacológico para crianças com epilepsias graves, que possuem Síndrome de Dravet, Síndrome de Lennox-Gastaut e Esclerose Tuberosa. De acordo com o Neurologista e Vice-presidente da ABE, Doutor Lécio Figueira, o canabidiol é erroneamente visto por muitas pessoas, como uma substância milagrosa, o que é um problema, já que existem indicações específicas para o uso.

“Faz parte do método científico duvidar, até que as evidências se apresentem, e é importante diferenciar tratamentos promissores, do que já está comprovado cientificamente. A eficácia do canabidiol para o tratamento de epilepsia em adultos necessita de mais estudos, assim como quando abordamos sobre outras condições neurológicas como Doença de Parkinson e Alzheimer. Além disso, é importante esclarecer que o canabidiol pode ser indicado para crianças que são primeiramente tratadas de forma adequada com os medicamentos atualmente disponíveis e estes não resultaram em controle das crises, e que outras opções também não funcionaram, como dieta cetogênica, cirurgia para epilepsia ou Terapia VNS”, explica.

Ainda segundo o Vice-presidente da ABE, quando o canabidiol é utilizado, é de uma forma associada, ou seja, junto com outros tratamentos. Também não é possível desconsiderar o fato de que a substância pode ter efeitos colaterais como diarreia e até mesmo hepatite medicamentosa. “Todas estas informações reforçam como o uso deve ser feito sob orientação e acompanhamento médico. A indicação do uso também sempre deve ser explicada ao paciente para entendimento das limitações e riscos”, afirma.

Questão regulatória

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), editou no final de 2019 uma resolução que regula o registro das formulações à base de canabidiol no Brasil e, assim, foram estabelecidos critérios que devem ser cumpridos pelas empresas que queiram obter o registro para a venda em farmácias. Para o Mestre e Doutor em Neurologia e Diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da Health Meds, Flávio Rezende, os critérios impostos pela Anvisa são essenciais para garantir que os medicamentos são de fato, seguros e eficazes.

“As normas da Anvisa são muito favoráveis, pois estabelecem como critério básico, a necessidade de qualidade das formulações. Em um primeiro momento, as companhias devem comprovar que o que foi produzido foi feito em laboratório com certificação de boas práticas e é preciso que mostrem, por meio de testes, que os produtos têm pureza e concentração definida. Assim, as empresas que cumprem todos os requisitos recebem uma autorização sanitária temporária para a venda em farmácias. É fundamental que as pessoas tenham acesso a formulações de qualidade e consistentes”, diz Flávio.

A Anvisa também estabeleceu uma resolução que normatiza a importação de formulações por pessoas físicas. Desta forma, laboratórios brasileiros e importadoras podem oferecer produtos diretamente aos pacientes a partir de prescrição médica. Neste caso, a agência emite um certificado de importação. “Os produtos sempre devem seguir os preceitos da ciência, o que significa segurança, qualidade e eficácia. A Anvisa tem uma ótima ação em relação ao estabelecimento de normas de registro e comercialização”, informa Doutor Flávio.

Informação e estudo

Apesar do uso do canabidiol para o tratamento de epilepsia ser frequentemente discutido pela mídia, diversas pessoas ainda confundem a substância com a cannabis, o que traz a ideia errada de que a planta é a solução para as crises. “A Associação Brasileira de Epilepsia tem atuado para divulgar informações sobre o tema, inclusive porque as pessoas precisam entender que o tratamento é feito com canabidiol. A cannabis é uma planta e o canabidiol é uma das dezenas de substâncias que fazem parte de sua composição”, declara a Presidente da ABE, Maria Alice Susemihl.

Diversas pesquisas estão em andamento, inclusive sobre os outros componentes da cannabis, o que é fundamental para o avanço das evidências científicas. Mesmo após a aprovação de produtos, é preciso deixar claro que os estudos continuam para a avaliação dos efeitos e riscos dos medicamentos a longo prazo. “Aguardar por produtos seguros é importante porque estamos falando de vidas e, por isso, o trabalho da ABE de esclarecer é tão importante”, afirma Maria Alice.

Neste mês de abril, a Associação Brasileira de Epilepsia promove dois eventos on-line com o foco na discussão sobre o uso do canabidiol para o tratamento da doença. A live “As indicações do canabidiol nas epilepsias da infância” com a Doutora Laura Guilhoto, Doutor Flávio Rezende e MSc. Amanda Mosini, aconteceu dia 27, às 19h, pelo Facebook, e para quem não assistiu ou deseja rever, a conversa está disponível na rede social.  O episódio do mês, “Em que casos o canabidiol é indicado?”, do ABEcast, podcast da ABE, será divulgado na rede social no dia 29, às 19h.

 

Serviço

Live

Tema: “As indicações do canabidiol nas epilepsias da infância”

Dia: 27 de abril de 2021

Horário: 19h

Local: facebook.com/AssociacaoBrasileiradeEpilepsia

 

ABEcast

Episódio: “Em que casos o canabidiol é indicado?

Dia: 29 de abril de 2021

Horário: 19h

Local: facebook.com/AssociacaoBrasileiradeEpilepsia

 

Sobre Associação Brasileira de Epilepsia

A ABE é uma Associação sem fins lucrativos que se estabeleceu como organização para divulgar conhecimentos acerca dos tipos de epilepsia, disposta a promover a melhora da qualidade de vida das pessoas que convivem com a doença. Integra o International Bureau for Epilepsy e é composta por pessoas que têm epilepsia, familiares, neurologistas, nutricionistas, advogados, assistentes sociais, pesquisadores e outros profissionais. Atua formando grupos de autoajuda, facilitando a reabilitação profissional, lutando pelo fornecimento regular de medicamentos nos postos de saúde e hospitais públicos, além de batalhar, incansavelmente, pelo bem-estar das pessoas que convivem com a doença e pelo fim dos estigmas e preconceitos sociais.