Nos 92 anos desde a primeira Copa do Mundo, realizada em 1930, no Uruguai, as camisas dos jogadores de futebol deixaram de ganhar peso adicional, durante as partidas, de até três quilos, referentes ao suor retido nos modelos antigos, feitos à base de fibras celulósicas e/ou de algodão. “Hoje, a tecnologia dos materiais e da fabricação de roupas ajuda muito na performance dos atletas”, salienta Fernando Valente Pimentel, presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit).
O desenvolvimento dos uniformes esportivos também beneficia todos os consumidores, pois os avanços são incorporados aos produtos ofertados ao mercado. Já existem fibras com propriedades de adaptação às intempéries e monitoramento cardíaco e da pressão arterial. A nanotecnologia e aditivação de metamateriais serão os próximos avanços em poucos anos. O presidente da Abit, entidade que mantém parcerias com universidades e centros de pesquisa focadas em desenvolvimento e inovação, salienta que é significativo o desenvolvimento tecnológico das fibras e filamentos para o segmento esportivo e outras áreas, como defesa e medicina.
Informações do Centro de Tecnologia da Indústria Química e Têxtil (SENAI CETIQT), em parceria com a Abit, permitem compreender a história dos tecidos dos uniformes esportivos. Revelam que a fibra natural, usada na sua confecção até meados dos anos de1980, deixava a camisa com toque suave quando seca e apresentava um bonito brilho. Todavia, no decorrer das partidas, as camisas absorviam a transpiração dos atletas, ocasionando um peso maior nos uniformes.
Ocorreu um avanço na ciência de materiais e na tecnologia têxtil. Na segunda metade da década de 1980, o poliéster passou a ser usado junto com o algodão. No início da década de 1990, virou material único das camisas de futebol. Isso resultou num uniforme mais leve e secagem mais rápida. O tecido, porém, pinicava a pele dos jogadores devido às características do poliéster da época.
A evolução da fibra sintética deu origem, no final dos anos 1990, às camisas dry-fit, que permitem maior evaporação do suor, são mais leves, de melhor toque e que proporcionam sensação de frescor aos jogadores durante as partidas. O uniforme da seleção brasileira na Copa do Mundo de 2002 tinha duas camadas presas por uma costura interna na altura dos ombros. A “segunda pele” era uma malha dry-fit, que transportava o suor para a camada externa, entrelaçada com um poliéster de baixo peso.
A inovação recebeu o nome de cool motion (movimento de resfriar) e tinha como objetivo tornar a camisa mais resistente à umidade e ao calor, segundo a fabricante. Entretanto, vestir as duas camadas de tecido tornava-se um empecilho. Assim, a tecnologia dos tecidos esportivos permaneceu e segue em evolução.
Em março de 2018, a CBF e a fabricante apresentaram os uniformes que a Seleção Brasileira usaria na Copa do Mundo da Rússia. As mangas das camisas possuíam os fios trilobais, canais que facilitavam o transporte de líquidos da parte interna para a parte externa. É esperado, em breve, que tecidos de nanofibras – menores do que a microfibra, mas ainda em desenvolvimento – sejam utilizados na confecção dos uniformes de futebol. Essas camisas serão ainda mais leves e absorverão ainda menos suor. Como novidades do uniforme da seleção para a Copa de 2018, a fabricante informou ter desenvolvido um tecido antiaderente, que não grudava na pele mesmo quando molhado. Na composição dos shorts, o tecido stretch (55%) permitia melhor flexibilidade.
Novo avanço tecnológico está presente no uniforme da Seleção Brasileira que tentará a conquista do hexacampeonato mundial no Catar. O desenvolvimento combina a coleta de dados sobre o movimento do corpo com um projeto computadorizado, destinado a criar uma camisa leve de última geração, facilitando o uso pelos jogadores. Com a utilização de mapas que rastreiam o calor dos atletas, os designers projetaram o material pixel a pixel, para criar um tecido ventilado e que não contivesse muito calor. Isso faz com que a camisa seja capaz de esfriar nos pontos onde são mais necessários no corpo do atleta, como nas axilas e costas, por exemplo.
O chamado padrão da onça, por sua vez, é mais do que meramente visual: a confecção vazada tem como objetivo ajudar na respirabilidade da peça, absorvendo também o suor dos jogadores durante a partida. Segundo a fabricante, os uniformes são compostos 100% de poliéster reciclado, feitos a partir de garrafas plásticas.
De 1930, quando se realizou a primeira Copa do Mundo, até 1970, quando Pelé, Tostão, Gerson, Clodoaldo, Rivelino e companhia ganharam o tricampeonato, no México, as camisas, secas, pesavam 400 gramas e o que dificultava a respirabilidade. Eram 100% de fibras naturais. Em 1980, ganharam mistura de poliéster, mas continuaram com a dificuldade no quesito de permear o suor. Permaneceram assim até 1990, quando, feitas inteiramente de poliéster, se tornaram respiráveis. De 1999 a 2002, quando a seleção de Ronaldo Fenômeno, Rivaldo, Marcos e tantos outros craques conquistou o penta, as camisas tinham as duas camadas (dry-fit). Em 2010, tornaram-se 40% mais leves, passando a ser produzidas com poliéster reciclado e a terem peso de 240 gramas.
“No Catar, este ano, as camisas tornam-se 13% mais leves do que as de 2002, passando a 208 gramas. Têm tratamento dry-fit avançado. Que venha o hexa”, salienta Pimentel.
Características dos tecidos
Análises do SENAI CETIQT indicam que a densidade, espessura, estrutura e número de poros são os fatores que determinam a quantidade de ar que pode passar pelos tecidos. Geralmente, o tecido que é mais fino e tem mais poros (espaços entre cada ponto da trama) mais permeável ao ar será e, portanto, permitirá maior ventilação.
A permeabilidade ao ar do tecido é importante para manter o conforto do corpo e a proteção contra a umidade. Quanto maior a permeabilidade, mais a temperatura do ar circulando em torno e no corpo é facilmente transportada para fora do corpo. No entanto, o tecido com baixa permeabilidade corta o movimento do ar e evita a perda de calor.
Independentemente do material, todos os trajes de natação, por exemplo, são desenvolvidos para possibilitar o menor atrito possível durante os diversos tipos de nado e possibilitar melhor movimentação do atleta. A morfologia do filamento/fibra (como trilobal e casca-núcleo) facilita sinergicamente o material têxtil. É possível aplicar acabamentos para reduzir o atrito e propiciar efeitos desejados para a atividade.
Os avanços resultam de estudos físico-químicos realizados nos filamentos e fibras. A nova tecnologia utilizada nos uniformes – Dry-FIT ADV (breve tradução de “Seco e Fitness”) – deixou o material ainda mais leve e foi feita usando, principalmente, o mapa de calor dos jogadores. Composta por poliéster de microfibra sintética de alto desempenho, permite a transferência do suor para a superfície da trama, por ser porosa, através da ação capilar, evaporando o líquido, afastando-o da superfície do corpo e garantindo que os atletas permaneçam sempre secos e confortáveis. Na camisa amarela, é possível ver “furinhos” em sua estampa, que, além de remeter à onça-pintada, ajuda na absorção do calor no corpo dos atletas durante as partidas.
As novas camisas têm como característica a elasticidade, minimizando o desconforto e contribuindo para uma boa execução. Esse efeito causado pela tecnologia do dry-fit expele o líquido da superfície da roupa, impedindo que ela fique encharcada. Dessa forma, o atleta ganha mais aerodinâmica e liberdade nos movimentos e evita odores causados pelo suor e possíveis ferimentos ocasionados pelo atrito entre a pele e a roupa molhada.
O dry-fit é capaz de proporcionar muito conforto para quem o utiliza. Por ser feito de microfibras, não pesa no corpo do atleta e ainda permite uma movimentação mais livre. A microfibra, como a usada em roupas finas, deve, por definição, ser inferior a um dernier de 1, o que significa que nove mil metros de fibra pesam menos de um grama. O fio de cabelo tem aproximadamente 20 derniers, ou seja, é pelo menos vinte vezes mais denso do que o tecido dry-fit. Isso significa que a malha é muito mais leve e confortável. Isso faz com que o material seja o melhor tecido para uniforme esportivo, pois é leve e confortável e pode influenciar diretamente na performance durante a prática de exercícios físicos.