O candidato do PT ao governo de São Paulo em 2014 será mais um ungido do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva. Alexandre Padilha, ministro da Saúde, é até aqui a aposta do ex-presidente. Marta Suplicy, ministra da Cultura; Aloízio Mercadante, ministro da Educação; José Eduardo Cardozo, ministro da Justiça; e o prefeito de São Bernardo, Luís Marinho, são os preteridos.    O que mais chama atenção não é a briga interna do PT e sim o fato de o ex-presidente novamente apostar em um quadro técnico. Lula deu um abraço de urso na tecnocracia de 2010 para cá e não mais a largou. As ponderações a seguir ajudam a entender a postura do principal estrategista político do país:   1) O ideário liberal cantado em verso e prosa na década de 1990 em terras brasileiras deixou como herança o consenso de que o governante deve ser um gestor preocupado basicamente com a saúde financeira do Estado – como se o país fosse uma empresa e o líder político um gerente. 2) Os tucanos abraçaram o ideário tecnocrata e seus principais candidatos se apresentam até hoje como gerentes. Geraldo Alckmin derrotou José Genoíno na disputa pelo governo do Estado de São Paulo em 2002 depois de apresentado como administrador capaz de erigir uma gestão técnica e livre da corrupção. O tucano não proferia discursos inflamados e decorava números de sua gestão para apresentá-los nos debates. Deste modo, Alckmin resistiu à onda PT, que levou Lula pela primeira vez à presidência da República, e derrotou o petista Genoíno.  3) A sociedade paulista industrial-empreendedora-competitiva internaliza o discurso tecnocrático e escorado nele Geraldo Alckmin se elegeu governador duas vezes e José Serra uma.  4) Lula resolveu invadir a praia dos tucanos. O PT perdeu as duas últimas eleições no primeiro turno em São Paulo e Lula e Dilma foram derrotados em terras paulistas. Para a disputa à prefeitura de São Paulo em 2012 Lula escolheu um político de fala mansa, com perfil técnico, descolado do petismo tradicional e se aliou a setores da centro direita populista, representada pelos órfãos de Paulo Maluf. Lula fortaleceu a candidatura Fernando Haddad e o petista venceu. Desta feita Lula escolhe mais um com perfil técnico: Alexandre Padilha. 5) A escolha de Lula pulula na imprensa justo no momento em que os tucanos estão enrolados com os velhos problemas internos do partido e com o troço dos supostos cartéis no metrô. E há, como bem define o ex-presidente, desgaste de material: vinte anos de PSDB e sempre os mesmos candidatos. Luis Inácio aposta no discurso tecnocrático para marcar o maior golaço da história do PT em São Paulo. Detalhe: Padilha também não é identificado aos tradicionais petistas rejeitados em solo paulista. 6) A preferência de Lula por técnicos não nasceu ontem. O governo Lula sofreu denúncias graves de corrupção e sangrou politicamente. Perdeu quadros caros ao governo e ao PT. De José Dirceu, na política, a Antônio Palocci, na economia. Lula passou o bastão para uma mulher com perfil técnico para anular a crítica da oposição aos supostos desatinos financeiros de seu governo. Em Campinas, Lula indicou Márcio Porchmann, presidente do IPEA durante seu mandato, para ser o candidato do PT à prefeitura da cidade. Outro técnico e distante do PT local embrulhado no pacote que explodiu no colo do ex-prefeito de Campinas Dr. Hélio de Oliveira Santos. Por tudo que foi levantado, dá pra concluir que a predileção de Lula de uns tempos pra cá por candidatos com perfil técnico tem respaldo na conjuntura política. A estratégia do ex-presidente é realista e incomoda vários de seus aliados.