Nesta semana, durante uma entrevista, o ex-presidente do Uruguai, José “Pepe” Mujica (89), contou que o câncer de esôfago – diagnosticado no primeiro semestre de 2024 – sofreu metástase. “O câncer no esôfago está se espalhando em meu fígado. Não consigo impedir isso com nada. Por quê? Porque sou uma pessoa idosa e tenho duas doenças crônicas. Não posso passar por tratamento bioquímico ou cirurgia porque meu corpo não aguenta”.
Mujica grava vídeo de despedida
Após passar por 32 sessões de radioterapia, Mujica optou a não se submeter a mais nenhum tratamento para a cura da doença e pediu aos médicos que evitassem prolongar seu sofrimento. “O guerreiro tem direito ao seu descanso”, expressou.
Em dezembro, ele passou por uma cirurgia relacionada ao câncer e ficou um final de semana internado para recuperação. Durante o procedimento, feito em Montevidéu, foi colocado um stent no esôfago, um dispositivo que auxilia na autoexpansão para permitir a passagem de alimentos. Mujica havia relatado anteriormente que o canal do esôfago havia se estreitado e por isso precisaria da cirurgia.
“É duplamente complexo no meu caso porque padeço de uma doença imunológica há mais de 20 anos que me afetou, entre outras coisas, os rins, o que cria óbvias dificuldades para quimioterapia e cirurgia. Tudo isso está sendo avaliado”, disse em uma entrevista em abril.
Entenda a doença
O câncer de esôfago acontece quando as células do revestimento interno do esôfago – tubo que vai da garganta ao estômago – passam a aumentar de maneira descontrolada. Contudo, a doença pode crescer, invadindo outras camadas do órgão ou mesmo outros órgãos ao redor.
No mundo, a neoplasia está entre a oitava mais frequente e seu tipo mais comum é o adenocarcinoma, seguido pelo carcinoma de células escamosas. De acordo com a Dra. Renata D’Alpino, oncologista especialista em tumores gastrointestinais e neuroendócrinos da Oncoclínicas São Paulo, é possível ainda que outros tipos de câncer também ocorram no esôfago. “Linfomas, melanomas e sarcomas podem surgir na região, mas vale lembrar que eles são bastante raros”, comenta.
Tipos de câncer de esôfago
- Carcinoma de células escamosas — a camada interna do esôfago (mucosa) é revestida por células escamosas. O câncer que começa nessas células é chamado de carcinoma de células escamosas. Ele pode ocorrer em qualquer lugar ao longo do esôfago, mas é mais comum na região do pescoço (esôfago cervical) e nos dois terços superiores da cavidade torácica (esôfago torácico superior e médio); e
- Adenocarcinoma — Os cânceres que começam nas células da glândula (células que produzem muco) são chamados de adenocarcinomas. São frequentemente encontrados no terço inferior do esôfago (esôfago torácico inferior).
Sintomas
Quanto aos sinais da doença, a oncologista explica que na grande maioria dos casos o câncer de esôfago é assintomático em fases iniciais, podendo dificultar o diagnóstico do paciente.
“No entanto, quando os sintomas aparecem, é possível notar dificuldade de deglutição, dando a sensação de que a comida está presa na garganta ou no peito. Isso ocorre devido a obstrução da passagem de líquidos e alimentos; outro sinal é a dor no peito, como se fosse uma pressão ou queimação; e ainda a perda de peso sem causa aparente, que pode chegar até 10% ou mais do peso corporal do paciente”, explica Renata D’Alpino.
Outros sintomas possíveis do câncer do esôfago podem incluir:
- Rouquidão;
- Tosse persistente;
- Vômitos;
- Hemorragia digestiva.
Veja notícias internacional e turismo
“Caso os sintomas não passem, é muito importante procurar por ajuda médica. No entanto, vale lembrar que nem sempre esses sinais são relacionados aos casos de câncer de esôfago, por isso, o diagnóstico correto é fundamental para o início do tratamento mais adequado ao paciente”, reforça a médica.
Prevenção
Como forma de prevenção, é fundamental evitar alguns hábitos que podem aumentar os riscos de desenvolvimento da doença. São eles:
- Ingerir bebidas quentes demais (em temperatura igual ou superior 65ºC)
- Tabagismo
- Inalar poeiras de construção civil, vapores de combustíveis, entre outros
- Consumir bebidas alcóolicas
- Exposição a ambientes com radiação ionizantes (raio X e Gama)
- Obesidade
De acordo com um estudo publicado no periódico Annals of Internal Medicine, beber chá quente demais pode aumentar os riscos da doença. Contudo, se junto ao hábito o paciente também consumir bebida alcóolica ou fumar, as chances podem ser cinco vezes maiores.
“Felizmente, o câncer de esôfago pode ser prevenido, mas é importante que a população em geral deixe alguns hábitos de lado. Manter uma dieta equilibrada, não fumar, praticar atividades físicas regularmente e não ingerir bebidas alcóolicas ou quentes demais, como chás, chimarrão, entre outros, são alternativas para contornar o problema. Vale lembrar ainda que a vacinação contra o HPV é fundamental para evitar que a doença seja causada pelo vírus. Além do câncer de esôfago, ela também pode auxiliar na prevenção do câncer do colo do útero, ânus, boca, etc”, alerta a médica.
Diagnóstico
Após a queixa do paciente, o médico irá solicitar uma endoscopia digestiva alta (EDA) com biópsia e em seguida, após a confirmação da doença, exames de imagem para analisar o estadiamento da neoplasia. Os mais comuns são:
- Endoscopia — exame realizado com o paciente sedado em que um endoscópio com câmera avalia a parte interna do esôfago. Durante a endoscopia, são retirados fragmentos de lesões identificadas;
- Ultrassom endoscópico — uma sonda que emite ondas sonoras fica no final de um endoscópio. Este teste é feito ao mesmo tempo que a endoscopia digestiva alta e é útil para determinar o tamanho de um câncer de esôfago e o quanto ele cresceu em áreas próximas. Também ajuda a mostrar se os gânglios linfáticos foram afetados pelo câncer;
- Broncoscopia — pode ser feita para cânceres que estão localizados na parte superior do esôfago. O intuito é ver se ele está invadindo a traqueia ou brônquios (tubos que conduzem o ar da traqueia aos pulmões);
- Toracoscopia e laparoscopia — são exames que permitem que o médico veja os gânglios linfáticos e outros órgãos próximos ao esôfago dentro do tórax (por toracoscopia) ou no abdômen (por laparoscopia) por meio de uma câmera. Também podem ser usados para obter amostras de biópsia. São exames realizados com o paciente anestesiado; e
- Tomografia computadorizada (TC) — a TC de tórax, abdomen e pelve desempenha um papel crucial na detecção de linfonodos metastáticos, de metástases hematogênicas e também na avaliação do grau de acometimento local do tumor.
- PET-CT – o exame mostra se existem alterações no metabolismo celular, produzindo imagens com tecnologia digital e recursos de raio-x. Além disso, ele analisa em qual estágio o tumor está, para que seja possível planejar o tratamento. O procedimento consiste na aplicação de uma substância que emite baixas doses de radiação à base de glicose por via venosa. Com isso, o especialista poderá investigar o consumo de glicose no organismo e eventuais problemas.
Tratamento
A partir do diagnóstico, o oncologista irá indicar o melhor tratamento para o câncer de esôfago, podendo variar entre cirurgia, radioterapia e quimioterapia (isolada ou combinada). Vale lembrar que quando o câncer de esôfago já se espalhou para outros órgãos, o tratamento envolve quimioterapia e, em alguns casos, imunoterapia.
“Dependendo de cada situação, o médico pode indicar a combinação de tratamentos, como o caso da quimioterapia, podendo ser associada com a radioterapia antes da cirurgia. O objetivo, neste caso, é eliminar células cancerosas não observadas e ainda diminuir o tamanho do tumor”, finaliza a oncologista da Oncoclínicas.
Sobre a Oncoclínicas&Co
Oncoclínicas&Co é o maior grupo dedicado ao tratamento do câncer na América Latina, com um modelo especializado e inovador focado em toda a jornada do tratamento oncológico, aliando eficiência operacional, atendimento humanizado e especialização por meio de um corpo clínico composto por mais de 2.900 médicos especialistas com ênfase em oncologia. Com a missão de democratizar o tratamento oncológico, oferece um sistema completo que integra clínicas ambulatoriais a cancer centers de alta complexidade. Conta com 144 unidades em 40 cidades brasileiras, permitindo acesso de qualidade em todas as regiões que atua, alinhados aos padrões dos melhores centros de referência mundiais no tratamento do câncer.
Com foco em tecnologia, medicina de precisão e genômica, a Oncoclínicas realizou aproximadamente 635 mil tratamentos em 2023. É parceira exclusiva no Brasil do Dana-Farber Cancer Institute, afiliado à Faculdade de Medicina de Harvard, um dos principais centros de pesquisa e tratamento de câncer no mundo. Possui a Boston Lighthouse Innovation, especializada em bioinformática, em Cambridge, Estados Unidos, e participação na MedSir, dedicada ao desenvolvimento e gestão de ensaios clínicos para pesquisas independentes sobre o câncer, em Barcelona, Espanha. Recentemente, expandiu sua atuação para a Arábia Saudita por meio de uma joint venture com o Grupo Al Faisaliah, levando a missão de vencer o câncer para um novo continente e proporcionando cuidados oncológicos em escala global, ao combinar a hiperespecialização oncológica com abordagens inovadoras de tratamento.
A companhia integra a carteira do IDIVERSA, índice lançado pela B3, destacando empresas comprometidas com diversidade de gênero e raça. Para maiores informações acesse: www.grupooncoclinicas.com
+ NOTÍCIAS NO GRUPO NOVOMOMENTO WHATSAPP