Muitas pessoas que assistiram aos filmes “50 Tons de Cinza” ou “365 Dias” despertaram interesse em uma prática sexual bastante explorada em suas cenas: o BDSM (sigla que engloba Bondage, Disciplina, Dominação, Submissão, Sadismo e Masoquismo).
Erroneamente associada, exclusivamente, a dor ou submissão cega, sua compreensão em uma relação pode representar uma nova forma de experimentar o prazer e a conexão entre os envolvidos, criando um espaço onde o desejo, entrega e confiança se encontram, levando a intimidade a um nível muito mais profundo e seguro do que a sociedade, tradicionalmente, impõe.
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Por mais que seja fortemente ligada a uma prática de extremo domínio, Andy Buru, referência na sexualidade consciente na Europa, relaciona a submissão como um presente. Ela só pode ser entregue a alguém que tenha a coragem de pedir por aquilo que realmente deseja. Isso significa que, no BDSM, não há espaço para passividade automática ou dominação sem responsabilidade. Tudo ocorre dentro de um jogo de confiança mútua, onde a presença total e a autenticidade são indispensáveis.
Quando seu conceito é devidamente compreendido e praticado, ele é capaz de criar uma experiência que vai muito além do prazer intenso e consciente. O BDSM não representa apenas uma prática erótica, mas algo que pode estreitar ainda mais a intimidade entre as partes, indo além das relações sexuais. Àqueles que se dão a chance de conhecê-lo, tendem a descobrir graus de intimidade muito mais profundos. Tanto é que, segundo uma pesquisa realizada pelo aplicativo de relacionamentos Feeld junto do Instituto Kinsey, o BDSM se destaca entre os desejos sexuais praticados por 56% da Geração Z.
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Para que haja a segurança necessária a fim de atingir tamanho nível de prazer, existem três princípios fundamentais que sustentam o BDSM: SSC (São, Seguro e Consensual), toda prática deve ocorrer dentro de um ambiente seguro e com consentimento mútuo; RACK (Risk-Aware Consensual Kink), algumas práticas envolvem riscos, mas são feitas com total consciência e responsabilidade; e consentimento e comunicação, tendo o diálogo entre os parceiros como algo essencial para alinhar expectativas, limites e desejos.
Isso significa que, na prática, durante uma sessão de dominação e submissão, a presença e o alinhamento são fundamentais. Ao mesmo tempo em que o dominador pode reforçar a conexão entre eles através de perguntas como: “Você está comigo?”, o submisso pode provocá-lo com frases como: “É só isso que você tem?”, reacendendo o jogo e intensificando a experiência.
Já a submissão, em si, pode ser vista, principalmente, de duas formas: surrender (Entrega), aonde o prazer vem de dentro, e o submisso não precisa estar focado na satisfação do outro – mergulhando na própria experiência sensorial, enquanto o dominador apenas facilita esse processo; e submissão a alguém, na qual o submisso se entrega totalmente à vontade do dominador, confiando que ele conduzirá a experiência de forma intensa e alinhada ao desejo de ambos.
A grande diferença entre elas é que, na primeira, o prazer acontece independentemente da interação com o dominador, enquanto na segunda, o jogo erótico se baseia na hierarquia e no controle mútuo. Em ambas, o BDSM permite que o prazer se expanda muito além do convencional, considerando que, conforme estudos neurocientíficos, o cérebro pode interpretar estímulos intensos como prazerosos, ativando a liberação de endorfinas e criando uma experiência erótica mais profunda.
Essa transformação, contudo, não acontece instantaneamente. O corpo precisa de um tempo para se adaptar ao estímulo e transformar a intensidade em prazer. Dependendo do tipo de experiência, esse processo pode levar cerca de 20 minutos para atingir seu ápice. Por isso, no BDSM, há um entendimento claro sobre ritmo e tempo, onde nenhuma experiência deve ser apressada ou feita sem consciência, de forma que cada sensação possa ser explorada no seu momento certo, garantindo que ambos os envolvidos possam aproveitar plenamente.
Se há algo que essa prática ensina, é que o prazer verdadeiro não está no tempo, na quantidade ou na potência, mas sim na qualidade da conexão e na autenticidade do desejo. Aqui, não há necessidade de se encaixar em padrões ou seguir roteiros prontos, o que importa é descobrir o que realmente excita cada um e como pode explorar isso de maneira consciente e sem culpa.
No fim, o BDSM não se resume a amarras, ordens ou rótulos.
Ele é sobre intensidade, presença e coragem para viver o prazer de forma plena e verdadeira. Um verdadeiro convite para todos descobrirem novas formas de sentir.
Márla Camilo é terapeuta integrativa, colunista, escritora e mentora especializada em desenvolver homens que desejam se tornar conscientes e atingir seu máximo potencial.