Na avaliação de sindicalistas ouvidos ontem (26/08) na CPI dos Acidentes do Transporte Ferroviário de Carga, presidida pelo deputado estadual Chico Sardelli (PV), a Rumo ALL (América Latina Logística) é a pior ferrovia do país, considerando os baixos salários e as condições ruins de trabalho. As informações foram prestadas por Rogério Pinto dos Santos, secretário geral do Sindicato dos Trabalhadores em empresas Ferroviárias da Zona Sorocabana, representando também o Sindicato dos Trabalhadores em Empresas Ferroviárias da Zona Araraquarense, da Zona Mogiana e das Empresas Ferroviárias Paulistas. Comentários também foram feitos por José Antonio Matias, secretário geral do Sindicato da Paulista.

 “As causas dos acidentes são uma sequência de irregularidades, um emaranhado de situações inseguras, um agrupamento de decisões insensatas, tudo isso misturado com irresponsabilidade, ignorância e omissão”, disse Rogério em sua apresentação. Diante das atuais circunstâncias, ele teme a ocorrência de uma tragédia no transporte ferroviário de carga. “Os acidentes ferroviários, em decorrência de sua característica de grandes volumes e material ferroso combinado com a velocidade, são ingredientes fortes para as tragédias”.
De acordo com os dados apresentados, em média dois trabalhadores ferroviários morrem por ano na ALL. “Os números são cruéis e refletem escandalosamente a precariedade com que é tratada a segurança operacional e a segurança do trabalho pela concessionária”. Nos últimos 12 meses três trabalhadores morreram na ALL, sendo um no Paraná com 3 meses de empresa, em treinamento, esmagado entre os engates de vagões. Em Cubatão, um trabalhador caiu em um buraco e maquinário sobre o seu corpo, ficou 30 dias no hospital e faleceu. Em Santos, um trabalhador morreu esmagado entre engates na área portuária.
Rogério apresentou um perfil dos trens para efeito de comparação. Em 2000, por exemplo, a média era de 2 locomotivas, com 3 mil toneladas, 40 vagões, 800 metros de extensão e dois maquinistas com formação profissional de no mínimo 1 ano. Em  2015, a média é de 3 locomotivas, com 13 mil toneladas, 128 vagões, 2,6 km de extensão e um maquinista, tendo formação profissional de no mínimo 3 meses ou 3 locomotivas,  9 mil toneladas, 100 vagões e 2 km.
Entre os principais problemas indicados pelos sindicalistas é a mudança no sistema de freios. “Os freios de emergência foram isolados, como consequência há perda de eficiência de frenagem e perda de resposta na aplicação de freios, facilitando a ocorrência de acidentes”, comentou. Ele citou como exemplo um acidente ocorrido na Serra de Santos, em 2013, provocado pela falta de freios. Nesse caso, o maquinista estava há 25 horas em serviço.  
Os sindicalistas detalharam sobre a falta de manutenção nos vagões e locomotivas, a jornada excessiva de trabalho, sem repousos adequados, em condições degradantes. “As locomotivas estão sem banheiros ou os banheiros são lacrados. Quando há banheiro, não tem higiene. Suas necessidades fisiológicas são feitas em cima de jornais ou em garrafas pet. Até a alimentação é feita dentro das locomotivas. Eles trabalham em situação análoga à escravidão. Já denunciamos essa situação ao Ministério do Trabalho e também há uma ação criminal”.
“Fiquei muito alarmado com as informações trazidas pelos sindicatos a esta CPI. A população em geral tem pouco contato com os trabalhadores ferroviários e não tem conhecimento dessa situação. A CPI vai ser parceira da categoria e no relatório apresentaremos as denúncias aos órgãos competentes”, completou Sardelli. Participaram da reunião os deputados Roberto Massafera, Davi Zaia, Delegado Olim e Abelardo Camarinha.