Por lidar com tecnologia pura, o trabalho dos desenvolvedores inevitavelmente se relaciona com a evolução da inteligência artificial. Sendo assim, questões como a substituição da mão de obra humana por parte da IA vêm à tona o tempo todo. Mas uma coisa é certa: clareza e precisão suficientes para permitir a criação de ativos executáveis úteis, que possam evoluir e se manter ao longo do tempo, são e sempre serão única e exclusivamente atributos humanos. É preciso entender que a chave do sucesso, nesse caso, é o equilíbrio.
Confesso que a IA já faz parte do meu dia a dia. Mas entendi, com o tempo, que a aplicar dentro dos times nunca é um caminho padronizado. Cada equipe e cada produto tem suas especificidades, e a IA vai ajudar cada um de maneiras diferentes. Para alcançar resultados expressivos, precisamos de um objetivo claro, um projeto, uma estratégia. Então, será mesmo que a IA pode eliminar a profissão do desenvolvedor?
Falo com propriedade: jamais. Ela está longe de substituir as análises de problemas complexos com os quais desenvolvedores têm que lidar. Não se trata apenas de executar uma ordem, os desafios demandam resolução. A IA até pode ajudar a direcionar, mas não resolve nada sozinha; precisa da orientação e do senso crítico humano. Usar uma inteligência artificial sem esse olhar pode resultar em falta de transparência, ausência de testes e de validação completa, e até possíveis problemas na privacidade dos dados. Raphael Yoshiga, CEO da FCamara no Reino Unido, me fez a seguinte provocação: imagina um médico prescrevendo medicação por ChatGPT sem entender? Você está colocando o negócio e os usuários em risco.
Usada de forma consciente, a IA ajuda e muito os devs na otimização de tarefas, verificação de códigos e algoritmos, geração de testes automatizados, desenvolvimento de aplicações avançadas, recomendações inteligentes e análise de dados, entre outras atividades. O desenvolvedor que utiliza IA na sua rotina com certeza tem uma vantagem competitiva em relação a quem é mais retraído nesse uso. Conversando com CIOs e CTOs de grandes empresas sobre o assunto, eles compartilharam uma percepção curiosa: a IA provavelmente não tirará o seu emprego, mas alguém que a utilize talvez.
Também percebo que a inteligência artificial aguça a curiosidade e a criatividade do dev. Costumo dizer que o comando certo, com a ferramenta certa, encurta muito o caminho.
O futuro ainda nos reserva muitas novidades com a IA, e pode ser que isso acabe impactando a entrada de novos desenvolvedores no mercado. Portanto, tenho como premissa reforçar a importância da IA como um complemento, trazendo conhecimento para os futuros profissionais, incentivando-os a saberem aplicá-la, e, mais ainda, ensinando como usá-la. Não é nosso papel combater, mas sim saber tirar o melhor dela.
A inteligência artificial chegou para ficar. Temos, sim, que a usar e estimular seu uso. Afinal, na tecnologia, somos pagos para resolver problemas e aprender a linguagem de tudo que envolve o setor. Agora, é a vez de aprender e viver a IA. Ela traz riscos e recompensas, que dependem 100% de como os profissionais irão usá-la, assegurando que seja aplicada com bom senso e ética.
Não se preocupem com o tamanho do barulho. Como disse Grady Booch, um dos pioneiros na programação orientada a objetos, “a IA vai matar a programação da mesma forma que os compiladores mataram a programação” quando surgiram — ou seja, não vai. E digo que ela ainda vai ser uma grande aliada.
*Por Joel Backschat, CIO da FCamara e fundador da Orange Juice