Perdemos nossos melhores políticos, intelectuais e homens públicos. Em verdade, tivemos poucos, relativamente à história universal. O fato é que nossa atual representação se assemelha a um valhacouto de pequenos homens interessados em seus próprios umbigos. De nada valeram as memoráveis manifestações de rua de 2016. O povo falou a ouvidos moucos. Restaram rebotalhos políticos que se digladiam em campos opostos: os ideólogos de direita e esquerda, a vacuidade completa.
O símbolo dessa politicalha é uma velha bruxa medieval, feia, má, cheia de protuberâncias pontiagudas e mergulhadas no ódio ao adversário, ao que se opõe e seus planos pessoais, revestidos de uma palavra vã, “patriotismo”. A imaginar-se esse símbolo, podemos lembrar o poema alegórico e tenebroso de Charles Baudelaire:
“Remorso póstumo Quando fores dormir, ó bela tenebrosa,
Num eco mausoléu de mármores, e não
Tiveres por alcova e morada senão
Uma fosse profunda e uma tumba chuvosa;
Quando a pedra, oprimindo essa carne medrosa
E esses flancos sensuais de mora lassidão,
Impedir de querer e de arflar seu coração
E teus pés de seguir a trilha aventurosa,
O túmulo que terá seu confidente em mim
– Porque o túmulo sempre há de entender o poeta –
Da insônia sepulcral dessas noites sem fim,
Dir-te-á: “De que te serviu cortesã incompetente,
De ter tido o que em vão choram os mortos sós?
O verme te roerá como um remorso atroz.”
Claramente, não é unânime. Um povo miscigenado e de respeitáveis tradições, afora os políticos minúsculos, têm gênios do pensamento, da política, das ciências e da poesia, mas terá de contornar as montanhas pedregosas que vemos em nossos próximos caminhos.
Amadeu Garrido de Paula, é Advogado, sócio do Escritório Garrido de Paula Advogados.