A alegria em receber um resultado positivo, ouvir os primeiros batimentos e todo o cuidado e carinho da gestação até o nascimento é o desejo de muitas mulheres. Mas, para pelo menos 15% delas, este sonho foi interrompido pelo menos uma vez na vida. Segundo a revista médica The Lancet, a cada minuto 44 mulheres sofrem um aborto espontâneo em todo o mundo, o que representa cerca de 23 milhões de gestações interrompidas. Para algumas, esse pesadelo aconteceu mais de uma vez consecutiva, resultando no que é conhecido pela comunidade médica como aborto de repetição ou aborto recorrente.
O especialista em reprodução humana e membro da Associação Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA), Rodrigo Rosa, explica que o aborto no início da gestação não é anormal, mas que é necessário a procura por um médico especialista. “É importante ter em mente que toda gestação está sujeita a sofrer interrupção nas primeiras vinte semanas, e vários fatores podem estar relacionados a isso. Se a perda vem se repetindo em sequência ao longo das gestações, essa condição é chamada de aborto de repetição ou aborto recorrente. No caso de aborto de repetição, as causas precisam ser investigadas com cuidado”, disse.
Nesses casos, o especialista aponta que a prioridade no tratamento deve ser no sentido de interromper a sequência de abortos com uma gravidez bem-sucedida e sem prejuízos para a saúde do bebê e da mãe. De acordo com Rosa, a recorrência de abortos não precisa, necessariamente, implicar no fim do sonho de gerir uma criança. “É preciso ter em mente que o aborto de repetição não precisa representar uma sentença de fim da possibilidade de ser mãe. É preciso ter cautela e ajuda médica”, afirma.
Quais as causas para o aborto de repetição?
Os principais fatores que podem estar relacionados não se diferem a um aborto em si. Segundo Rodrigo Rosa, a incidência da interrupção da gestação em uma paciente implica em maiores chances de incidências no futuro. “Os fatores de risco que mais influenciam a recorrência são o histórico prévio de abortos e a idade da paciente. Quanto mais abortos anteriores, maior a chance de um novo aborto, principalmente à medida que a idade da mulher avança”, completa.
Principais causas:
- Feto com número de cromossomos alterado. Cerca de 50% dos casos de aborto espontâneo estão relacionados a essa alteração;
- Alterações anatômicas do útero, como útero bicorno, septado ou arqueado;
- Alterações endócrinas, como as que causam doenças como diabetes gestacional, síndrome do ovário policístico, alterações tireoidianas ou dosagens hormonais inadequadas para a manutenção da gestação;
- Presença de doença autoimune ou de alterações no funcionamento do sistema imunológico da gestante que o levam a agir contra o feto;
- Infecções e eventos traumáticos (físicos e psicológicos);
- Trombofilia;
- Ocorrências anteriores de perda gestacional;
- Fragmentações no DNA espermático do sêmen.
Quais os tratamentos para mulheres com histórico de aborto de repetição?
Rodrigo Rosa afirma que, inicialmente, é fundamental que as causas para a intercorrência de abortos sejam identificadas antes de seguir para uma nova gestação. “Algumas causas de aborto de repetição podem ser tratadas de forma conservadora e com acompanhamento constante, como as doenças autoimunes, hormonais e hematológicas. Outras podem necessitar de intervenção cirúrgica, como alguns casos de alterações anatômicas uterinas”, acrescenta.
Para pacientes que apresentam casos de alteração cromossômica no desenvolvimento do embrião, é recomendado um tratamento de reprodução assistida, como a Fertilização in Vitro, que aumenta de forma significativa as chances de sucesso da gravidez. O especialista ressalta que “na Fertilização in Vitro, a fecundação ocorre em ambiente laboratorial controlado, o que possibilita a realização de uma análise genética dos embriões antes de sua transferência para o útero. Também é possível, em casos de alteração genética nos gametas, a utilização de óvulos e/ou espermatozoides provenientes de um doador”.
É importante ressaltar que cuidados devem ser tomados antes de optar por uma nova gestação, como esperar pelo menos de 4 a 6 semanas após o abortamento para que um novo ciclo menstrual possa se iniciar e possibilitar a gestação. Além disso, é importante abandonar hábitos de vida nocivos, como o cigarro, o álcool, o sedentarismo, o abuso de cafeína e a alimentação desbalanceada.