Por Afonso Arinos F Gonçalves
Ultimamente temos tidos várias análises na mídia a respeito do uso da Petrobras por parte do governo como instrumento de controle da inflação em detrimento dos acionistas minoritários da empresa. As análises estão corretas do ponto de vista do investidor, pois colocou seu capital na empresa e quer ver retornos compatíveis com sua expectativa, principalmente após as descobertas do pré-sal. Frustrado, deixa de investir e o país sentirá falta desses recursos em algum momento no futuro.
Uma característica da Petrobras e sua relação com o preço do combustível no Brasil foi atuar como fator estabilizante ante as variações do preço do petróleo no mercado internacional. Muitas vezes o governo brasileiro não autorizava a Petrobras a repassar aos preços do combustível as altas internacionais do barril de petróleo assim como algumas vezes não repassou as quedas do preço desta commodity ao consumidor brasileiro. Até o pré-sal não havia problema, pois as necessidades de financiamento da empresa eram bem menores que atualmente.
Hoje, no entanto, a Petrobras está necessitando de imensos volumes de capital para explorar o óleo do pré-sal. Até a primeira gota do óleo que jaz embaixo da camada de mar e sal das bacias localizadas no Oceano Atlântico chegar à superfície, bilhões de dólares serão necessários em investimento, isto é, em plataformas, locais de armazenamento, aluguel de perfuradoras, etc. Para dar conta desta necessidade de recursos financeiros, houve no governo Lula uma capitalização da Petrobras, com a presença de milhares de investidores, de maneira a aumentar o caixa da companhia para fazer frente aos imensos desembolsos.
O que aconteceu, então? Para se livrar da crise de 2008, muitos países lançaram mão de mecanismos de resgate de sua economia. Dentre estes, os EUA estão utilizando mecanismo chamado Quantitative Easing, que, em resumo, é a derrame de dólares na economia de maneira a aumentar o consumo e torcer para que o PIB cresça. O efeito colateral de tanto dinheiro na economia é a inflação. Outro efeito é a utilização do dinheiro não para o consumo, mas para especulação. Investidores acabam negociando contratos de commodities como o petróleo, o que faz o seu preço elevar. Some-se a isto o atual apetite chinês pelo ouro negro, aumentando a demanda do óleo e pronto: o preço sobe.
No Brasil, sabemos que o combustível é componente fundamental no cálculo de inflação. De fato, combustível como a gasolina é utilizada na maioria das cadeias produtivas nacionais, principalmente no transporte de mercadorias, feito basicamente em cima de caminhões. Outro fator que se alterou nos últimos anos foi o aumento expressivo do número de carros, aumentando a demanda por combustível.
??bvio, portanto, que o governo irá se utilizar de todos os meios para combater a inflação. Dentre eles está não repassar o aumento do preço do petróleo ao mercado interno, principalmente através do aumento de preço da gasolina. Com isto a Petrobras se vê obrigada a importar gasolina cara e vendê-la a um preço menor, usando o dinheiro em caixa de maneira mais veloz. Para o investidor é um desastre, mas para o resto da população, que nunca viu uma ação da Petrobras, é ótimo que pelo menos a gasolina se mantenha em patamares baixos. Isto ajuda a manter o seu poder de compra. Segurando o preço da gasolina o governo ainda pôde baixar o preço da energia elétrica.
Se no curto prazo é bom para o consumidor, a médio e longo prazo pode se tornar um problema. Sem investir, a Petrobras ofertará menos combustível. Sem fazer caixa pode perder o grau de investimento e ter de pagar mais pelos seus empréstimos, tendo em algum momento de repassar esses custos para o preço final da gasolina. Por outro lado, caso o preço do petróleo baixe, esta pressão pode diminuir e a Petrobras conseguir agradar a gregos e troianos, aos investidores e aos consumidores. Por enquanto, os últimos ainda podem fazer a festa.